terça-feira, 23 de dezembro de 2008

0. A paragem sem assento

Na semana seguinte à defesa da tese voltei ao acelerador de partículas de Grenoble para recolher dados, uma espécie de digressão de despedida ou viagem de finalistas (mas ocorreu-me que para uma viagem de finalistas do doutoramento, uma vez que não tive propriamente uma turma, deveria ter ido sozinho). Ao longo do próximo ano ainda hei-de escrever artigos sobre o trabalho em que andei envolvido e fechar alguns ciclos. Duas semanas depois já tinha agendadas reuniões por causa dos meus próximos projectos, mais ligados à comunicação de ciência. No fim de contas, o doutoramento foi só uma paragem e mal tive tempo de dizer cheguei antes de me por de novo a andar.

As contagens decrescentes sucedem-se umas às outras. Decidi terminar esta com a primeira frase da minha tese. Foi realmente a primeira frase que escrevi e tive especial cuidado, pois imaginei que fosse a frase mais lida de toda a tese.

"Proteins are polypeptide chains built from a repertoire of 20 aminoacids, but many also require tightly bound specific prosthetic groups or cofactors in the form of small molecules or metals for their biological activities."

10. Riscos e petiscos
9. Os longos dias de York
8. As bactérias que trabalham para nós
7. Os electrões às voltas na rotunda com as luzes acesas
6. Cristais e outros que tais
5. O mundo a 173 negativos
4. Viagens na minha tese
3. A luta continuada
2. Desporto e cerveja
1. Os companheiros de viagem

1. Os companheiros de viagem

Foi uma boa viagem, em parte pela companhia. Transcrevo por isso os agradecimentos da minha tese, que está escrita em inglês.

I would like to thank my two supervisors. Professor Maria Arménia Carrondo for creating the conditions that allowed me to perform this work, for being there in decisive moments and supporting me in critical occasions. Dr. Francisco Enguita for all the teaching, motivation, energy, decisive contributions and friendship. It was really a privilege to have worked so closely and learn with him.

The PhD is a journey and we travel alongside travel mates. Sometimes we are lucky and the journey is more pleasant. I think I was very fortuned. Ana Toste Rego was one of the first travel mates. We shared long days at the York Structural Biology Laboratory, performing delicate molecular biology work, sometimes really working “four hands”.

David Aragão’s friendship and sense of humour gave me great confidence. His help was very valuable in many occasions; he was an excellent and patient guide to the Linux and non-trivial crystallography software world.

Daniele de Sanctis, a very good ally and friend that shared his experience and knowledge with me, countless times. Not only within the crystallography scope, but also in the Italian cooking field!

Mário Correia was a reliable lab partner and good friend. Always available to help, make suggestions and troubleshoot discussions.


I thank Colin McVey for helpful brainstorms and suggestions, and to help troubleshoot software setup issues.


Also, Pedro Matias for sharing his expertise and experience with me. He gave me valuable insights and suggestions and was a great help with data collection, numerous times.


Ricardo Coelho was my good and friendly desk neighbour for all this years. He was always available to reliably perform very delicate crystal manipulation operations and to give good suggestions for crystal optimization.


Diana Plácido and Tânia Oliveira for their friendship and confidence, for listening to me and for good advice.


For the final parts of my travel, I have to specially thank Ana Teresa Gonçalves for her inspiring motivation and genuine friendship.


I cannot forget Catarina Silva, a great friend and a precious ally. Always keen to help and to undertake constructive actions.


I'd also like to thank all that received me at the York Structural Biology Laboratory, specially Dr. Mark Fogg and Dr. Keith Wilson.


For financial support I thank Fundação para a Ciência e Tecnologia (PhD grant SFRH/BD/13738/2003). The research also received funding by the European Commission under the SPINE project, contract-no. QLG2-CT-2002-00988 under the RTD programme "Quality of Life and Management of Living Resources".


Above all I would like to thank my family. For always believing and supporting me when needed, for creating the conditions and the environment that allowed me to pursue my education even when that wasn’t so easy. My grandmother was born in 1909, in a small village in Portugal. Although she had a prodigious memory, she never had the opportunity to learn how to read. My grandmother past away in the second year of my PhD, during a short three weeks stay at the York Structural Biology Laboratory. I don’t think she missed not being here to see me defend my thesis; I’m sure she would had rather be at my hypothetical wedding or hold a grand-grandson. My grandfather had a four-year formal education, in the time Portugal was still a kingdom. He embraced quite an adventure when decided to move to the agitated Lisbon of the First Republic. He came with nothing and worked hard to offer his two daughters the best education he could. He had a struggling and long life, and eventually died when I was in the second year of university. Thanks to the efforts of my grandparents, my mother and my aunt where able to study more than anyone in the family before. I can't forget my uncle, who was also an important element in my path. I would like to thank them all, for making the hardest parts of the way that leads me here.

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domingo, 21 de dezembro de 2008

Vou continuar a beber sem açúcar

Foi o António Granado que me chamou a atenção para esta citação de Cláudia Bandeira num pacotinho da Nicola:

Espero que a Cláudia não tenha ficado muito desiludida nesse dia...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

2. Desporto e cerveja

Na véspera decidi que não iria fazer nada de especial. Afinal, o que faltaria que não tivesse sido feito ao fim de mais de quatro anos e que ainda conseguisse fazer no dia que faltava? Pelo menos uma coisa: o teste de som e vídeo. Pouco depois do almoço fui ao ITQB e experimentei a minha apresentação no projector do auditório. Descobri que iria usar um headset, semelhante aos que usam os bailarinos da Madonna, como microfone. Gostei!

Ao fim da tarde fui escalar para uma parede artificial, no Complexo Desportivo do Jamor, que não por acaso fica ao pé da minha casa. Combinei com os meus grandes amigos Tiago e Mário, companheiros de outras aventuras menos caseiras, nomeadamente pelas encostas do Monte Branco acima e abaixo. Primeira surpresa, os projectores que iluminam a parede estavam apagados. Tudo bem, escalamos com a luz dos frontais, pequenas lanternas que se prendem à cabeça, ao estilo mineiro.

Jantar frango assado take-away, cervejas e muitas momentos revividos com gargalhadas e brindes. É neste momento que desligo o telemóvel para só voltar a ligar depois da defesa da tese.

Durmo bem e no dia seguinte levanto-me para ir buscar a minha camisa ao sinc-à-sec. É a única peça de roupa mais formal, já que defendi a tese de calças de ganga. Afinal não é nenhum casamento e se fosse eu provavelmente não ia. Prefiro estar vestido de um modo que me sinta confortável do que mascarado. O melhor compromisso que arranjei foram as calças de ganga e a camisa direitinha.

Camisa em casa, pego na raquete e vou para a parede bate-bolas. Fico a bater bolas contra a parede durante mais de uma hora, olhando para o relógio de vez em quando. Almoço na esplanada junto ao campo central do Estádio Nacional, ainda em calções e com a raquete na cadeira do lado. Quem me viu não imaginou que iria defender a minha tese de doutoramento em bioquímica estrutural dentro de menos de duas horas.

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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

3. A luta continuada

Camping frente à AR, Outubro de 2006.

É uma luta continuada, a dos bolseiros de investigação científica. Se no 4 falei do privilégio de viajar, nem tudo são rosas. Nem um privilégio necessário compensa a falta de direitos básicos de um grupo de cidadãos que trabalha para o bem estar e desenvolvimento das sociedades em que está inserido.

Os jovens investigadores não têm, por exemplo, direito ao regime geral de segurança social, nem baixa por doença, subsidio de desemprego, etc. Mas não me vou aqui alongar sobre isso, escrevi um artigo de opinião recentemente no Público cerca deste assunto.

A ciência não interessa para nada. Até ao dia que uma eventual mutação num vírus da gripe ameaça a saúde pública. Ou uma linha de alta tensão. Ou as radiações dos telemóveis. Mas a importância da investigação, e consequentemente das condições dos recursos humanos que nela trabalham, não é percepcionada de um modo muito imediato pela sociedade. Por isso, a luta dos jovens investigadores não se faz de grandes saltos, como se os camionistas entrassem em greve. Faz-se degrau a degrau.

Eu acho que também faz parte, para quem faz um doutoramento com uma bolsa, ajudar a subir uns degraus desta escada.

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terça-feira, 18 de novembro de 2008

4. Viagens na minha tese

É de facto um privilégio os investigadores terem oportunidade de viajar para ir a conferências, encontros da rede de trabalho, etc. É justificado na medida em que faz sentido trocar experiências com pessoas que trabalham no mesma área que nós, especialmente quando esta vai sendo inventada todos os dias. Não fui a tantas conferências e encontros quanto poderia. Mas de quase todas trouxe qualquer coisa de interessante, que nalguns casos se passou a utilizar no laboratório em Oeiras.

Às vezes esta oportunidade e quase obrigação de viajar não parece tanto um privilégio. Por exemplo, fui umas cinco vezes a Hamburgo e posso dizer envergonhadamente que não conheço Hamburgo. Invariavelmente apanhei um táxi no aeroporto para o sincrotrão, para depois passar vários dias num túnel a fazer experiências com raio-X e cristais de proteínas a 173 graus negativos, dormindo e alimentando-me quando era mais conveniente para os cristais, para voltar a enfiar-me num táxi directo para o aeroporto. O mais que me aproximei de Hamburgo foram os arredores. Peguei numa bicicleta, mas não consegui chegar ao centro, tinha que voltar para os meus cristais, o recreio tinha acabado. Mas sei que Hamburgo tem uma zona portuária magnifica e uma rua só com prostitutas. Nunca vi nada disso, mas contaram-me! Um dia hei-de lá ir. Mas para a próxima, apanho o autocarro.

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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

windoze

Fui buscar um computador dos meus tios, após uma reparação. O disco rígido tinha sido formatado e o windoze instalado de raiz como consequência da intervenção. Resolvi fazer as actualizações de sistema.

Primeiro impacto: para ligar o computador à rede sem fios tive que introduzir a chave da rede duas vezes. Uma, mais a confirmação. A minha chave de segurança são 26 caracteres aleatórios. Noutro sistema operativo, se me enganar à primeira repito a chave com mais atenção e pronto. Mas assim é mais democrático: quer me engane quer não me engane, digito os 26 caracteres duas vezes.

Como não utilizo o windoze há muitos anos recorri à ajuda do sistema para encontrar o windoze update. A aplicaçãozinha de ajuda "crachou" duas vezes! Tive que fazer o ctrl-alt-del para matar o programinha que "não estava a responder", operação e léxico familiares do tempo em que usava o windoze!

Como é possível que numa instalação limpa do windoze (ainda sem rigorosamente mais nada instalado) "gele" um componente do próprio sistema operativo?

Lá consegui fazer as actualizações, não sem antes ter que registar um .dll manualmente. Entre cada grupo de actualizações, o windoze lá me informava que era preciso "reiniciar o sistema", ecoando em seguida aquele som caracteristico do windoze a arrancar, tal sino da igreja de quarto em quarto de hora.

Quanto mais conheço o windoze mais gosto de máquinas de escrever e ábacos...

Quero terminar com uma palavra de esperança: há vida para além disto, o Linux é de graça! Pode-se descarregar gratuitamente ou até receber um CD em sua casa, que não paga nem os portes de correio!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

5. O mundo a 173 negativos

É um certo paradoxo, a razão pela qual nos damos ao trabalho de arrefecer cristais de proteína antes de os expor a um feixe de raio-X de alta intensidade.

Quanto mais intenso é o feixe de raio-X, mais detalhes conseguimos saber da estrutura da proteína que constitui o cristal. Mas o feixe de raio-X também vai destruindo o cristal. Para contornar este paradoxo, fazemos as experiências a 173 graus negativos. Porque a esta temperatura (obtida graças a uma corrente constante de ar seco, arrefecido com azoto líquido) tudo é mais lento. Nomeadamente os processos de danos por radiação.

"Carrossel" com 10 tubos contendo cristais de proteína mergulhado em azoto líquido.

Cada cristal é pescado da gota em que cresce, com um loop muito pequeno (semelhante a um laço à cowboy com alguma décimas de milímetro) e mergulhado em azoto líquido. Antes, como um cristal de proteína tem cerca de 50% de água, temos que a tirar lá de dentro. Senão acontece o mesmo que a uma garrafa de água cheia que se coloca no congelador: aumenta de volume e parte. Substituímos a água no cristal por outro líquido que não aumente de volume quando congela. Em geral, glicerol (tem de ser uma molécula pequena, para poder entrar nos canais de solvente do cristal).

Operações triviais à temperatura ambiente passam a requerer uma certa técnica e cuidado, para não descongelarmos o cristal e não nos queimarmos com o azoto líquido.

Pescamos o cristal, mergulhamos em azoto líquido, encaixamos a base do laço à cowboy num pequeno tubo de plástico e guardamos. A partir de aqui, tudo tem que ser feito num banho de azoto líquido. Encaixar e desencaixar a base magnética, colocar o tubinho num carrossel para poder ser medido, encaixá-lo numa peça de metal para ser transportado num termo em azoto líquido. Usam-se pinças e varinhas magnéticas para fazer estas operações. Porque não podemos simplesmente pegar na tampa do frasquinho e desenroscá-la com os dedos mergulhados em azoto líquido.

É o mundo a -173ºC

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terça-feira, 4 de novembro de 2008

6. Cristais e outros que tais

Não é fácil fazer cristais de proteína, porque as coisas têm tendência a existir de um modo desorganizado, e um cristal é uma forma da matéria em que as moléculas estão todas o orientadas da mesma maneira e distribuídas a distâncias regulares pelas três dimensões.

O principio é ter a proteína numa solução e ir lentamente retirando a água. A proteína está dissolvida porque há moléculas de água que estabilizam as suas cargas de superfície. Quando as moléculas de água disponíveis escasseiam, as proteínas juntam-se umas às outras e acabam por passar ao estado sólido na forma de agregados. Em condições especiais, juntam-se de um modo organizado e fazem uma rede, semelhante a um painel de azulejos em três dimensões. Isso é um cristal.

Cristais de proteína

Como não sabemos à partida em que condições isto acontece experimentamos muitas coisas. Diferentes aditivos que competem pelas moléculas de água, concentrações de proteína, etc. Tantas que até temos robôs para ajudar.

Estas experiências são feitas em pequenas gotas, que evaporam muito lentamente num ambiente fechado. O resultado mais comum não é um cristal, mas sim um precipitado amorfo, sem utilidade para caracterização por raio-X. Quando finalmente encontramos condições em que a proteína cristaliza é quase como descobrir a combinação de um cofre.

O robôt de cristalização

As gotas feitas pelo robot têm um volume de 300 nanolitro (um nanolitro é um milhão de vezes mais pequeno que um mililitro), por isso temos que procurar os cristais através de uma lupa que aumenta 200 vezes. Não é uma lupa à detective, tem um aspecto semelhante a um microscópio, com duas oculares. A diferença entre uma lupa e um microscópio é que a lupa só tem uma lente e o microscópio óptico tem duas. Como consequência numa lupa conseguem-se ver as coisas em três dimensões e num microscópio não, pois os planos ficam todos compactados. Mas um microscópio, multiplicando a capacidade de aumento de duas lentes, aumenta significativamente mais.

Lupas para observação de cristais do Laboratório de Cristalografia do ITQB

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terça-feira, 28 de outubro de 2008

7. Os electrões às voltas na rotunda com as luzes acesas

Fui pela primeira vez a Grenoble (França) em 1999, no âmbito do meu estágio de licenciatura, em cristalografia de raio-X de proteínas. Era um curso de uns três ou quatro dias sobre aplicações de feixes de raio-X produzidos num sincrotrão.

Um sincrotrão é um acelerador de partículas, um sítio onde (neste caso) os electrões andam a velocidades próximas da luz. Um electrão às voltas num acelerador de partículas é como um carro às voltas numa rotunda com os faróis acesos. Emite luz numa direcção tangencial à sua trajectória. No caso do carro às voltas na rotunda é luz visível, no do electrão raio-X.

O que me faz constantemente voltar a Grenoble é um sincrotrão, em que os electrões dão voltas de 600 metros e emitem raio-X a cada curva. O European Synchrotron Radiation Facility (ESRF).

Ao contrário de outros aceleradores de partículas, o ESRF não está enterrado e o túnel circular pode distinguir-se perfeitamente.

O que ponho à frente desse feixe de raio-X de alta intensidade são cristais de proteína. Um cristal é um sólido em que as moléculas estão todas orientadas da mesma maneira. Assim, quando a radiação incide no cristal todas as moléculas interagem com ela da mesma maneira. Se as moléculas estivessem cada uma virada para seu lado, a interacção de uma era anulada pela de outra, e no final não víamos nada. É o que acontece com um sólido amorfo.

Pormenor de uma cabine experimental (beamline) do ESRF. Quando o feixe de raio-X está "ligado" ninguém aqui pode estar. No entanto, entramos para introduzir as amostras e preparar a experiência.

Fazendo curta a história, pomos o cristal de proteína à frente do feixe de raio-X e parte da radiação é desviada em direcções muito definidas que são registadas num detector (semelhante a um CCD de uma máquina fotográfica digital). Na imagem obtida no detector aparecem uns pontinhos. Rodamos o cristal, incidimos mais raio-X e obtemos mais pontinhos. Por inacreditável que pareça, esses pontinhos têm informação sobre a estrutura (a forma em três dimensões) da proteína (a unidade que se repete no cristal).

Na sala de controlo, cheia de computadores e a salvo dos raios-X.

Mas em 1999 não estava muito para aí virado. Tinha decidido arranjar um emprego numa empresa quando acabasse o curso. Grenoble impressionou-me pelas montanhas, o próprio sincrotrão é imponente, mas lembro-me de ter pensado que provavelmente nunca mais lá voltaria. Por outras ocasiões pensei a mesma coisa.

Grenoble é o sítio onde estou sempre a voltar pela última vez.

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terça-feira, 21 de outubro de 2008

8. As bactérias que trabalham para nós

O modo como fazemos as bactérias trabalhar para nós, ou seja produzir uma proteína que não é delas e não lhes serve para nada, mas que nos interessa, tem a sua inteligência e perversão.

A dada altura convencemo-las de que estão em perigo iminente e de que a única maneira de se salvarem é produzindo a proteína que nos interessa. O que elas fazem, se tudo correr bem. Depois, longe de se salvarem, o que acontece é que nós rebentamos com elas e tiramos a proteína lá de dentro. Felizmente ainda não há activistas dos direitos e bem estar das bactérias (e ainda bem, caso contrário deixaríamos de poder tomar antibióticos e regressaríamos ao inicio do século passado).

Regressado de York, foi à produção biotecnológica de proteínas que me dediquei no ITQB, em Oeiras. O que trouxe na bagagem foram essencialmente pequenos tubos, aparentemente vazios. Com o olho treinado, e sob luz directa, poderiam distinguir-se resíduos esbranquiçados no fundo de cada tubo, que na realidade continha ADN liofilizado (o branco não é do ADN, mas sim de proteínas associadas). Porções circulares de ADN, a que se chamam plasmídeos, cada um deles contendo um gene com a informação para construir uma proteína.

Inseridos os plasmídeos dentro das bactérias, e com a motivação adequada que já mencionei, elas estão dispostas a colaborar. Fazemos com que o objectivo da vida delas seja produzir a proteína que queremos. Este é o mesmo processo usado para produzir anticorpos (que também são proteínas) para fins terapêuticos. Uma actividade reconhecidamente meritória e perfeitamente enquadrada na sociedade. Que mais uma bactéria pode ambicionar?

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terça-feira, 14 de outubro de 2008

9. Os longos dias de York


Cedo no meu doutoramento, o que precisava de fazer era muito simples de dizer e mais difícil de fazer. Trabalho com proteínas, mas a história das proteínas começa no ADN. O ADN são os planos para construir proteínas. Assim à bruta, é isto.

Um gene não é mais do que uma porção de ADN, com uma sequência específica de quatro bases (Adenina, Timina, Guanina e Citosina), que são como peças de lego. Há um sinal de começar o gene, que é uma sequência específica de três bases (ATG). Cada três bases seguintes significam um determinado aminoácido. Por exemplo, GGC é uma glicina, o aminoácido mais simples que existe. Uma proteína é constituída por uma série de aminoácidos ligados uns aos outros. A alanina, outro aminoácido, escreve-se no ADN como GCC.

Uma proteína tem um número variável de aminoácidos. As que eu estudo têm cerca de 300. Assim, no ADN estão codificadas em genes com cerca de 900 bases. No final, há um sinal para parar (TGA), como quem diz "o gene acaba aqui, não há mais aminoácidos para esta proteína".

Por exemplo, a sequência de ADN:

ATG- GGC- GCC- GGC - TGA

Traduz-se por:

Começar - glicina - alanina - glicina - terminar

Claro que isto seria uma proteína com três aminoácidos. O que não é propriamente uma proteína. Mas a ideia é esta. E na realidade o sinal de começar também corresponde a um aminoácido, que é uma metionina. É a esta correspondência entre trios de bases de ADN e aminoácidos que constituem proteínas que se chama código genético.

Era precisamente isto que me levava a York. Fazer corte e costura com ADN. Uma actividade a que as pessoas normalmente chamam biologia molecular ou (mais em desuso) engenharia genética.

Não fui sozinho para York, fui com uma colega portuguesa, e estávamos interessados em proteínas de duas bactérias patogénicas. Campylobacter jejuni (causa diarreias) e Klebsiella pneumoniae (infecções hospitalares). E estávamos interessados em muitas!

Uma pipeta multicanal. Serve para medir e dispensar oito pequenos volumes ao mesmo tempo, usando oito pontas descartáveis.

A ideia era "cortar" o ADN que codificava as proteínas que nos interessavam e inseri-lo noutra bactéria mais simpática para os cientistas, que se chama Escherichia coli (mas podem chamar-lhe E. coli). Na realidade não inserimos o ADN original, inserimos um cópia da parte que nos interessa. E depois fazemos com que o objectivo da vida dessas bactérias seja produzir uma proteína que não é delas.

E assim se passavam os dias em York. Entre pipetas multicanal, muitos tubinhos pequeninos, tantos que não nos podíamos dar ao luxo de os numerar e apenas os conseguíamos identificar pela posição no suporte, numa lógica batalha naval. Começavam cedo, com um pequeno almoço insano, um almoço frugal (em geral uma sandes de queijo com tomate), uma corrida para o jantar (a cantina fechava muito cedo) e terminava também cedo com uma pint num pub. Era tudo cedo!

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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

10. Riscos e petiscos

É uma longa contagem decrescente que se aproxima agora do lançamento.

Não sei exactamente quando começou, vou escolher começar a contar desde que me resolvi despedir da empresa farmacêutica onde trabalhava para fazer um doutoramento. Troquei o subsídio de Natal, de férias, o bónus anual, o contrato sem termo certo e a respeitabilidade social de ter um emprego pelo conceito bem mais difuso de "fazer investigação" e "ter uma bolsa".

Não era que não precisasse de ganhar dinheiro para pagar as minhas contas todos os meses. Mas como infelizmente não acredito na reencarnação tenho que tentar fazer as coisas que quero nesta vida.

Filosofias à parte, simplesmente decidi arriscar e encontrei-me no final de Julho de 2002 desempregado. E optimista. Tal como em muitas ocasiões na vida, e ainda com os bolsos cheios dos subsídios de Natal e de férias, não antecipei a verdadeira dimensão dos obstáculos que estavam à minha frente. E ainda bem. Considero que a capacidade de subestimar as dificuldades é uma qualidade que tenho.

Em Setembro estava de volta ao Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), em Oeiras, onde três anos antes tinha feito o meu estágio de licenciatura, no grupo de Cristalografia de Raio-X de proteínas. A mudança foi agradável. Deixei a fábrica com as tubagens de solventes inflamáveis que me passavam por cima da cabeça para um laboratório com vista para as vinhas da Estação Agronómica Nacional, que produzem as uvas com que se faz o excelente vinho de Carcavelos.

Comecei por me integrar num projecto em curso, com uma bolsa de investigação científica. Com esse trabalho e o que tinha feito no estágio de licenciatura na mesma área, fiquei com dois artigos científicos publicados, o que permitiu reforçar o meu currículo e melhorar as possibilidades de ganhar uma bolsa de doutoramento. Mesmo assim não ganhei. O meu trabalho de investigação na industria, protegido pelo segredo industrial e que não dá origem a publicações, não foi valorizado. Foi um daqueles momentos em que parecia que a vida me queria castigar por ter arriscado. Mas afinal só me queria dar um aviso. Pedi recurso da decisão e três meses depois acabou por me ser concedida a bolsa.

E foi assim que começou.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Humor-ciência: O ovo cósmico

Há 13.7 mil milhões de anos o Universo estava num estado denso de enorme uniformidade, como os funcionários públicos da Região Autónoma da Madeira.


Num momento a que se convencionou chamar Big Bang, o Universo começa a expandir-se. Nas primeiras fracções de segundo ocorre uma fase de crescimento exponencial a que se convencionou chamar inflação cósmica ou taxas de juro do BCE.


À medida que o Universo continuava a aumentar os quarks e os gluões combinaram-se em bariões, como protões e neutrões, produzindo de algum modo a assimetria entre a matéria e antimatéria, o bem e o mal, Anakin Skywalker e Darth Vader, Agostinho da Silva e Rui Santos.


Com o tempo as regiões ligeiramente mais densas foram atraindo matéria, formando estrelas, galáxias, instituições e o Universo como o conhecíamos até à reforma da Segurança Social.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Obrigado alforreca!


O prémio Nobel da Química deste ano foi para os cientistas que descobriram a proteína de fluorescência verde (GFP, na gíria de laboratório, de Green Florescence Protein) e o seu potencial como ferramenta de estudo bioquímico .

Desde os anos 50 que é conhecida uma alforreca (chamada Aequorea victoria) que emite luz verde. Isto acontece por causa de um fenómeno chamado bioluminescência (a energia libertada por reacções químicas é usada para emitir um fotão verde).

Descobriu-se (não à primeira!) que a origem da luz verde era a tal proteína, a GFP. A GFP também não emite verde assim sem mais nem menos. Há uma outra proteína, a aequorin, que emite uma luz azul quando é excitada quimicamente. Esse azul da aequorin vai estimular a GFP, que emite verde.

A fluorescência verde é por causa de uma sequência muito específica de três aminoácidos (serina - tirosina - glicina) dos 238 que constituem a GFP. Uma proteína é como se fosse uma serpentina construída com peças de 20 tipos (os aminoácidos).

A GFP é uma coisa porreira. Podemos colar a GFP a qualquer outra proteína que nos interesse (e isso fazemos com biologia molecular trivial) e ver onde ela está simplesmente acendendo uma lâmpada ultra-violeta. Mesmo dentro das células. Podemos saber onde estão proteínas que nos interessam, porque elas ficam verdes. Porque estão agarradas à GFP. Isto tem interesse para seguir o desenvolvimento de células nervosas ou o alastrar de células cancerosas, por exemplo.

Assim, a luz verde das alforrecas ilumina alguns caminhos das bio-ciências!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Humor-Ciência: Nobel da Química de há dois anos

[Sempre na crista da onda, um texto sobre o Nobel da Química de 2006]

Nobel da quimica pelo melhor entendimento da cerveja

O Nobel da Química de há dois anos foi atribuído pelas contribuições para o entendimento da base molecular da transcrição eucariota, permitindo compreender como é que as leveduras da cerveja traduzem o ADN para ARN.

Algum do aparato experimental usado pelo Dr. Roger Kornberg para estudar a transcrição da levedura Saccharomyces cerevisiae, o seu eucariota preferido, logo seguido da sua mulher. O laureado Nobel chegou a lançar no mercado a cerveja Kornberg 1664, que nunca atingiu no entanto a notoriedade da Kronenberg 1664, por razões meramente relacionadas com distribuição, já que a transcrição de ADN nas leveduras que fazem a Kornberg 1664 é irrepreensível.

sábado, 4 de outubro de 2008

Vote nas piadas da sua preferência

Escrever humor não tem piada nenhuma. É um exercício de rigor e técnica comparável à contabilidade ou à ginástica desportiva. Os profissionais do Inimigo Público exercem esta exigente actividade, por vezes com sacrifício pessoal, desde há cinco anos.

Para assinalar esse percurso de abnegação e sacrifício, o Inimigo Público ergueu um "site" comemorativo, uma rara oportunidade para contemplar os seus conteúdos humorísticos na "Internet" (isto porque no Inimigo ainda não dominamos as tecnologias da informação e nem sempre a D. Diolinda se dispõe a trocar a actividade de limpeza da redacção para nos ajudar a enviar coisas para a "Internet")

Clique nesta frase para obter uma ligação à linha do Inimigo na Internet

Nesse tal "site", uma maravilha da técnica e da modernidade, é possível fazer uma coisa nova que agora se chama "interacção". Assim, para além da contemplação, os leitores têm a oportunidade de fazer melhor que os profissionais treinados do Inimigo (não é difícil, basta ter de facto algum jeito, coisa de que não dispomos), votar nas melhores piadas e ofender-nos.

Não deixe de passar por lá, significaria muito para a equipa do Inimigo.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Será do nemátodo?

Os candidatos a astronauta são uma espécie em vias de extinção. Restam 192. Antes do Verão eram mais de 8000.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A cientista das estrelas

Texto do jornalista Micael Pereira publicado, na Revista Única do Expresso de 27 de Setembro de 2008 acerca da Sílvia, sobre quem já várias vezes aqui escrevi.

Sílvia Vicente
A cientista das estrelas que pensou ir a Marte
Uma das dez candidatas portuguesas a astronauta vai trabalhar para a Agência Espacial Europeia.

Fotografia: Expresso/Tiago Miranda

Ficou com essa fixação desde que, em 2004, foi a um curso na Áustria sobre como é viver e trabalhar no espaço, organizado pela agência espacial austríaca e pela Agência Espacial Europeia (ESA). A equipa de Sílvia Vicente tinha uma missão ambiciosa: encontrar água e vida em Marte. Era apenas um exercício, mas a então doutoranda de Astronomia e bolseira em Munique do ESO, o Observatório Europeu do Hemisfério Sul, soube que poderia ter uma hipótese quando abrissem o novo concurso para astronautas europeus, de que já se falava na altura.

Em Maio deste ano, quando a ESA abriu finalmente quatro vagas para todos os 17 países-membros, Sílvia concorreu. Foi uma das 10 portuguesas candidatas (de um total de 210 portugueses), mas já soube que não passou à fase seguinte, apesar do currículo em Física (na Faculdade de Ciências de Lisboa), da experiência internacional, da boa forma (faz dança desde os sete anos, tendo sido aluna da escola Norma Croner) e do seu lado sociável (no ESO, dava aulas de salsa aos outros investigadores).

Não está triste: "Para mim, ser astronauta sempre foi uma utopia". Quando os quatro eleitos forem escolhidos, no final do ano, Sílvia já estará na própria ESA, na Holanda, depois de ter ganho uma bolsa da estação espacial. Serão colegas, ela e os futuros astronautas. A investigadora portuguesa vai continuar a trabalhar no tema da sua tese de doutoramento: a fase inicial da formação de estrelas e planetas, no primeiro milhão de anos de vida.

Sílvia tem-se dedicado a observar discos protoplanetários - nuvens de gás e poeira que rodeiam estrelas bebés - no trapézio da constelação de Orionte. Demasiado longe para um astronauta lá ir.

Micael Pereira

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"Is that alcohol?"

Trinity College, Dublin mas não parece, o sol sente-se bem quando sai de trás da nuvem. Três estudantes, raparigas, sentam-se no relvado quase alinhadas com a placa que diz "Ná gabh ar na pairceanna imerartha, led thoil, Please keep of the playing fields". Não faz mal, há outras pessoas que o fazem, não tão perto da placa, é certo. Hora de almoço, que salta das malas em caixinhas transparentes de plástico com etiquetas. Não são malas escolares, são malas como as que as senhoras usam para levar ferros de engomar e tijolos. Salta também uma garrafa de champanhe e a rolha com o som característico. Não tinham decorrido nem 10 segundos do salto da rolha e aparece um polícia, desarmado. Levanto definitivamente os olhos do meu livro.

- Isso é álcool?

(Tão evidente quanto ele ser um polícia)

- Não é permitido beber no campus.

Fazem menção de voltar a colocar a rolha, mas deparam-se com as leis da física.

- Certifiquem-se de que essa rolha fica bem posta.

Após alguma hesitação uma delas, sorridente, pega na garrafa, levanta-se e deita-a no lixo. Apesar da placa "Keep of the playing fields", o polícia dá-se por satisfeito e vai-se. Elas terminam a refeição divertidas, com morangos, sem uma ponta detectável de indignação e sem ensaiarem o resgate da garrafa do caixote do lixo. Pergunto-me se isto acontecerá exactamente assim todos os dias ou só quando está bom tempo.

Tudo isto me leva a concluir que o Trinity College de Dublin não é um bom sítio para beber copos.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Magalhães dado

"It is a miracle that curiosity survives formal education”, Albert Einstein

O governo distribui os primeiros PC Magalhães pelas escolas. Alguns comentários sobre o assunto, no âmbito das minhas costelas geek e cyber-punk.

1. É bom que os seres humanos jovens tenham acesso a computadores. Sejam quais forem, é sempre preferível terem do que não terem.

2. O Magalhães é um computador português na medida em que é produzido em Portugal por uma empresa portuguesa. Trata-se no entanto do Classmate PC da Intel, um modelo criado para as crianças de países em vias de desenvolvimento que a Intel procura produzir nos mercados de destino para estimular as economias locais. Assim, tem a designação Anoa (na Indonésia), Mileap-X series (Índia), Mobo kids (Brasil) ou Magalhães. Isto não tem nada de mal. É só que quando vejo as notícias nacionais, nem sempre me fica inteiramente claro.

3. Vale a pena falar [Até porque é mais fotogénico!] no concorrente do Classmate PC, que se chama XO e foi desenvolvido pela organização sem fins lucrativos One Laptop Per Child (OLPC), fundada por Nicholas Negroponte, antigo director do Media Lab do MIT.


A OLPC pretende produzir computadores portáteis por menos de 100 dólares, acessíveis a crianças de regiões pobres do mundo. O XO é bastante inovador, a começar pelas suas insólitas antenas que funcionam substancialmente melhor do que uma antena wireless normal e que propositadamente têm uma aparência lúdica. O interface, especificamente concebido, é construído em software livre e de código aberto. E parte da premissa educacional disruptiva que as crianças vão aprender a usá-lo por si e ensinar-se umas às outras.

A primeira versão do XO teve processadores AMD. Em paralelo, a Intel desenvolvia o seu próprio PC de baixo custo. Mais tarde a Intel juntou-se ao OLPC tendo em vista a produção de uma segunda versão do XO com processadores Intel. O casamento entre a empresa e organização sem fins lucrativos não correu bem e o divórcio não foi bonito. A OLPC acusou a Intel de nunca ter estado realmente naquele casamento, que não contribuía com ideias e que minava o XO com o Classmate, vendendo-o abaixo do custo de produção. A Intel argumentou que a OLPC fez a exigência absurda que a Intel abandonasse o Classmate.

4. Nalguns casos o Classmate PC vem numa versão Linux. No entanto, o Magalhães em Portugal é distribuído com o Microsoft Windows. Na minha opinião seria preferível apresentar aos alunos uma perspectiva de partilha de conhecimento com software livre (livre, como em liberdade) e de código aberto. O Linux (software livre) é como ter um jogo que podemos desmontar, ver como é por dentro e até modificar. O Windows é uma caixa bem fechada, opaca e protegida contra a intrusão. Não é que cada criança vá modificar os programas e ferramentas que utiliza. Mas para quê pôr-lhes um tecto?

PS - Afinal o Magalhães vem com o Linux Caixa Mágica e o Windows XP em dual boot. Ou seja, é possível escolher no momento do arranque qual dos sistemas operativos se quer utilizar. Que dizer? Concordo! Ainda não consegui perceber (e gostava!) que género de acordo foi estabelecido com a Microsoft para o Magalhães.

sábado, 20 de setembro de 2008

O mundo foi criado em apenas 5,6 dias

[Mais um texto de Humor-ciência publicado no Inimigo Público]

Deus pode ter sido mais rápido do que se pensava. Tal como o físico João Magueijo propôs que a velocidade da luz não é constante, questionando um dos paradigmas da relatividade de Einstein, também a velocidade de Deus pode ser variável. Segundo a teoria VGS (Varying God Speed, na sigla inglesa), nos tempos primordiais (até ao sétimo dia) a velocidade de Deus poderá ter sido mais elevada. Uma das consequências é que Deus não descansou o sétimo dia inteiro, o que poderá permitir a abertura dos hipermercados ao domingo.


Na relatividade criacionista a velocidade da luz (c) é substituída pela velocidade de Deus (D)
Imaginemos um observador na Arca de Noé que se desloca à velocidade de Deus. Outro observador está parado, empoleirado em cima de um ramo de oliveira. E que há uma vela acesa na arca. O observador na arca vê a luz fazer um percurso rectilíneo até um espelho pendurado no mastro. Já o observador empoleirado em cima do ramo de oliveira vê a luz fazer uma trajectória obliqua. Essa trajectória é obviamente maior do que a trajectória rectilínea vista pelo observador dentro da arca. Se a velocidade de Deus é constante, e se visto de fora o percurso da luz é maior, o tempo tem que ter passado mais rápido para o observador dentro da arca de Noé.

Controvérsia: o estado a que a economia portuguesa chegou foi criado ou resulta de evolução?
Manuela Ferreita Leite acredita que estado actual da economia portuguesa é fruto do "intelligent design", e que esta teoria deve ser ensinada nos debates e comentários na televisão, em paralelo com a "teoria da evolução para a crise". Segundo a líder do PSD, o estado calamitoso da economia portuguesa não pode ser fruto de um processo evolutivo com base em mudanças aleatórias e selecção natural, pois a sua complexidade indica a existência de uma inteligência sobrenatural a desenhar o buraco em que Portugal se enfiou. Ferreira Leite acredita que a vontade desse Ser (a que chama Vasco) se manifestou nos Primeiros-Ministros em funções desde o 25 de Abril (excepto em Cavaco) e que o PREC foi uma espécie de génesis.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Humor Ciência: O Impossível é banal

[Mais um incrível off-topic ao tema fundador deste blog, depois do alpinismo, o humor-ciência. Um texto meu publicado recentemente no Inimigo Público. Em breve, algumas dicas de culinária]

O impossível é banal e até mesmo aborrecido segundo a física teórica actual
O físico teórico norte-americano, Michio Kaku defende que alguns temas da ficção científica poderão tornar-se realidade, sem problemas. O livro "A Física dos Impossíveis" deverá chegar às livrarias portugueses Portugal no próximo Outono, apesar de apenas ser impresso em Abril de 2010. O volume será desintegrado na livraria por um potente raio LASER, rematerializando-se em simultâneo na mesa de cabeceira do leitor. O mesmo acontece à factura, que poderia permitir alguma reclamação. O Inimigo deixa aqui o essencial de Michio Kaku acerca dos temas mais polémicos.

Teletransporte
O problema actual do teletransporte é que se tenta começar pelo mais difícil, coisas muito pequeninas e difíceis de ver, como fotões. O teletransporte tem duas fases, a desintegração do objecto original no local de partida e a rematerialização no local de chegada. Por exemplo, se partir à martelada um vaso Ming do século XIII, mesmo que não consiga rematerializá-lo no local de chegada, já é meio caminho andado para o teletransporte.

Invisibilidade
A invisibilidade já é uma realidade, sendo possível camuflar um avião da radiação micro-ondas (radar) ou a Manuela Ferreira Leite na paisagem política portuguesa. A invisibilidade funciona particularmente bem com radiação micro-ondas, que à partida também já não se vê (olhe para o seu micro-ondas ligado e veja se vê a radiação, vai ver que não).

Viagens no tempo
A questão das viagens no tempo tem essencialmente a ver com o sentido. O próprio Michio Kaku já viajou cerca de 61 anos no tempo desde que nasceu em 1947.

Contacto com extraterrestres
Basta ler os jornais ou assistir a uma sessão da Assembleia Legislativa da Madeira.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Procuram-se ex-futuros astronautas

Peço aos candidatos eliminados no processo de selecção para astronautas da ESA que enviem um email para o endereço no meu perfil. A ideia não é fazer uma agência espacial própria e chegar a Marte antes da NASA e da ESA, mas essa também é boa.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

¿Quiere ser astronauta?

Uma excelente reportagem do El País, sobre o processo de selecção de astronautas em curso.

Segundo o artigo, dos 8.413 candidatos que preencheram o questionário e entregaram o exame médico classe II, 932 foram seleccionados para as provas de aptidão psicológica em Hamburgo, que decorram durante o mês de Julho. Desses, foram escolhidos 200, que deverão prestar provas em Setembro para avaliar o seu desempenho em condições reais, com especial ênfase para o trabalho em equipa. Entre eles estão os 80 que serão seleccionados para efectuar extensos testes médicos. Os 40 ou 50 mais aptos farão uma entrevista pessoal e o director geral da ESA, o francês Jean-Jacques Dordain, escolherá os 4 astronautas de entre eles.



O artigo do El País, confirma também que os candidatos ainda no processo de selecção não podem prestar declarações públicas sobre o assunto.

Un veterano instructor de astronautas, el belga Walter Peeters, uno de los responsables de la selección de Duque, opina que "el perfil ideal es el de alguien que trabaja en equipo y que también es capaz de tomar decisiones muy rápidas". Y como no todos los países seleccionan igual, apunta: "Mis colegas rusos siempre han valorado entre sus candidatos a cosmonautas el sentido del humor, que ayuda a reconducir una situación complicada; ésta es una cualidad que tiene, por ejemplo, Pedro Duque"

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Projectos para o futuro

Com a minha eliminação do processo de selecção a primeira coisa de que me lembrei foi trespassar o blog para candidatos portugueses que passaram à próxima fase e encontrar neles uma continuidade desta história. Através das diligências efectuadas nesse sentido descobri que aos candidatos que passam à próxima fase é pedido que assinem um acordo em que se comprometem a não interagir com os media.

O irónico é que este blog, com as suas premissas fundadoras, estava condenado à partida.

domingo, 27 de julho de 2008

A montanha e o rato

"Uma montanha que pariu um rato... Na linguagem popular esta expressão tem um sentido pejorativo. Descreve uma decepção: fez-se um grande alarido e muitas ondas por uma ninharia. Se se tomar em consideração a matéria em jogo, pode-se compreender esta fórmula. Mas se nos colocarmos de preferência no plano da riqueza da organização, a situação inverte-se. Apesar dos seus milhões de toneladas de rocha, uma montanha nada sabe fazer. O rato, pelo contrário, com algumas dezenas de gramas de matéria, é uma maravilha do universo. Vive, corre, come e reproduz-se. Se um dia uma montanha parisse um rato, poderíamos pensar estar perante o mais extraordinário dos milagres...."

Hubert Reeves, em "Um pouco mais de azul"

Comentou o picuinhas nesta caixa que, para além do balanço que fiz da candidatura, "ainda houve o blog". É verdade. É uma parte nada desprezável desta aventura. Criar este espaço e nele partilhar as diversas coisas que se iam sucedendo (às vezes não sucedia nada e eu escrevia posts aleatórios sobre alpinismo!) foi muito gratificante. Chegaram-me pessoas interessantes e cheguei-lhes também.

É importante falar sobre a Sílvia, com quem fiz equipa em momentos significativos. Fomos juntos à Festa das Estrelas, onde falámos com jovens de escolas secundárias envolvidos em projectos de astronomia. Explicámos por várias vezes que não éramos astronautas nem tínhamos feito nada de especial. No final, uma rapariga pediu-me que autografasse uma pequena oferta que o nuclio tinha para ela e que eu lhe entregava. Que fazer? Hesitei, acedi. Seguiu-se o autografo da Sílvia. E depois todos quiserem os autógrafos de ambos. Isto faz muito sentido? Não. Veio algum grande mal ao mundo, subiu à minha cabeça ou à da Sílvia? Também não.

Também graças à visibilidade deste blog (por ser convidado do Público) fomos convidados para ir à Sic Mulher, ao programa Mundo das Mulheres. Eu e a Sílvia. 25 minutos de conversa com a Adelaide de Sousa, sobre o sonho de ser astronauta. Em directo. Alguma adrenalina e nervoso miudinho, mas no final o balanço é positivo. Divertimo-nos imenso.

Vou ainda ao Rádio Clube Português, programa Toda a Tarde. 40 minutos de amena cavaqueira com o Marcos Pinto, intercalados com o Lost in space dos Lighthouse Family e o Walking on the moon dos Police.

Pode-se dizer que a montanha pariu um rato. Gostaria que fosse verdade. Seja o que for que pariu, o parto foi muito divertido!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

"Entrámos bem na candidatura"


Obviamente que gostava de ter ido um bocadinho mais longe, mas uma candidatura é mesmo assim. Entrei no processo de selecção pelo processo de selecção, já sabia que havia dois resultados possíveis. Também há que dar mérito aos outros candidatos e desde já dou os meus parabéns e desejo a melhor sorte aos portugueses que passaram à fase seguinte.

A verdade é que esta pequena peripécia, mesmo que fugaz, foi uma aventura que valeu por si. O processo de decidir candidatar-me obrigou-me a olhar para mim e a assumir uma demanda ambiciosa. Numa fase de mudanças profissionais como a que estou a viver, ter uma perspectiva grandiosa, ainda que improvavel, ajudou-me a manter a motivação e optimismo em alguns momentos. [Por muito parvo que isto pareça].

Não me sinto triste, sempre disse que entrava neste jogo sem grandes expectativas e é verdade. Mas também não seria honesto não admitir que esperava chegar um bocadinho mais longe.

Mais sobre o futuro deste espaço será divulgado em breve.

no-reply

Dear Mr Marçal,

On behalf of the European Space Agency, I wish to thank you for your application and interest in joining the European Astronaut Corps.

I regret to inform you that after very careful consideration, it has been decided not to retain your application for the post of Astronaut. However, should you not object, we would like to keep your file on record for other career opportunities at ESA and contact you if a post which matches your profile should emerge.

I would also like direct your attention to ‘Careers at ESA’ website in which we advertise all current external vacancies. You may also be interested in subscribing to our recently introduced job alert feature. In order to receive the regular updates on vacant positions at ESA, please click

http://www.esa.int/SPECIALS/Careers_at_ESA/index.html

and follow the link ‘Subscribe to ESA vacancy notices’.

On behalf of the European Space Agency, I wish you all the best for your further career.

Yours sincerely,

F.C. Danesy

Head, ESOC Human Resources Division

This is a no-reply email address. Please do not respond to this email.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Plano Z

Não tenho pensado muito na minha candidatura. Para além de não haver muito para pensar de momento, a minha cabeça tem andado ocupada com outras coisas mais terrenas. Isto de ser astronauta, na melhor das hipóteses, é projecto para daqui a um ano! Muito antes disso tenho que terminar a tese em contra-relógio e escrever um projecto de pós-doutoramento. Uma carreira ligada ao sector astronáutico não pode ser o meu plano A nem o meu plano B!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Off again, gorgeous day!


(na ausência de novidades da ESA, mais uma história de alpinismo para embalar a espera)


O Everest sempre foi um íman para aventureiros que procuravam em demandas quase suicidas um sentido para a vida. Alguns foram sozinhos, outros aos 600 de cada vez, uns eram alpinistas experientes, outros não sabiam nada.

A história de Maurice Wilson é talvez a mais bizarra.

Em 1933 Maurice Wilson quis demonstrar que com uma mistura de fervor religioso e jejum conseguiria chegar sozinho e sem oxigénio suplementar ao cume do Everest. Em 1933 o Everest nunca tinha sido escalado, sozinho ou acompanhado, com ou sem oxigénio.

O plano era bastante simples: partir de Inglaterra de avião e ir por etapas até à base do Everest. Despenhar-se o mais acima possível nas encostas glaciares e continuar a pé, sozinho, até ao cume. Não sabia absolutamente nada sobre pilotar aviões ou subir montanhas. Preparou-se para a ascensão com cinco semanas de agradáveis caminhadas no countryside inglês. [What can possibly go wrong?]

Maurice Wilson com o seu avião Ever Wrest.

Comprou um avião. Precisou do dobro das aulas de pilotagem do que a média dos candidatos para obter uma licença de voo. Fez-se ao caminho e despenhou-se pouco depois da descolagem, o que obrigou a um atraso de três semanas para reparações. O Ministro do Ar proibiu-o de voar, mas nem isso o demoveu. Contra todas as expectativas (inclusive do seu instrutor de voo) chegou à Índia, onde o avião foi finalmente apreendido.

Falido, continuou a pé. Passou a salto para o Tibete, disfarçado de monge budista. Encontrou três sherpas da expedição de 1932 que concordam em acompanhá-lo na aventura.

No mosteiro de Rongbuk, com o Everest à vista, é recebido entusiasticamente. São-lhe facultadas cordas e tendas da expedição britânica do ano anterior e é abençoado pelo Lama superior. Não se demora. Volta ao caminho no dia seguinte, ao som da habitual oração da manhã. Escreve no seu diário que os monges rezavam por ele.

Chega ao glaciar sem crampons, piolets ou qualquer noção do que é a progressão em neve e gelo. Evita a morte miraculosamente durante algum tempo, mas o seu corpo é encontrado no ano seguinte a cerca de 7500 metros de altitude. A última entrada do seu diário é: "Off again, gorgeous day".

Em 2003 um alpinista encontra uma tenda antiga a 8500 metros e coloca-se a hipótese de ter pertencido a Maurice Wilson. Talvez Maurice Wilson tenha chegado ao cume do Everest. Isso faria dele não só o primeiro, como o primeiro sem oxigénio e a solo, antecipando 46 anos essa façanha. [O primeiro a fazê-lo e voltar para baixo foi Reinhold Messner].

Há um livro escrito sobre esta aventura, mas a única edição é de 1953 e não é fácil chegar a um exemplar.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Numa concha, é isto!

A informação do concurso da ESA para recrutar astronautas chegou-me e ao principio nem liguei muito. Andava ocupado com outras coisas, a escrever a tese, piadas no Inimigo Público e a preocupar-me com o futuro. É certo que gostava de ser astronauta, mas uma pessoa tem que se habituar à ideia de que talvez seja possível.

Um encontro casual e uma conversa inesperada pôs o assunto na minha agenda mental. Entrei em reflexão, ouvi as partes interessantes e interessadas, resolvi avançar. Fui fazer os exames médicos que os pilotos de avião fazem, fiquei à espera. Chegaram os resultados, aprovado, enviei para lá e a ESA deu-me a chave para abrir o formulário de candidatura. No fim do dia 16 de Junho de 2008 era oficialmente candidato. Um de 8413, de todos os países membros da agência espacial europeia. Para quatro vagas.

No dia 17 de Junho a ESA enviou-me um email a dizer que me dizia qualquer coisinha em seis semanas, para saber se passo à próxima fase, que é uma ronda de avaliação psicológica. Ainda não tive novidades. Posso supor que não sou suficientemente mau para ser excluído à partida nem suficientemente interessante para colheita à primeira passagem. Outra suposição que não seria disparatada, é a de que ainda não passaram seis semanas.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Claude, a alpinista feminista

Neste blog tenho misturado algumas coisas do imaginário do alpinismo. Talvez porque encontre uma relação entre a aventura de explorar uma montanha e a exploração espacial, mas sem dúvida porque também já coloquei uns crampons nas botas e me fiz às encostas geladas de mochila às costas e piolet na mão. Por vezes não sei como continuei, noutras voltei. Em 2005, ao regressar de uma tentativa falhada do cume do Montebranco pela via dos três colos (uma via muito longa do lado francês) vendi mentalmente todo o meu material de alpinismo no Ebay, enquanto me arrastava para a Aguille du Midi. Pensei em tudo: preços, descrições do estado e data da compra original, razões da venda. E foi assim que continuei a pôr um pé à frente do outro. Acabei por não vender nada e regressar aos Alpes mais duas vezes.

Apesar de não me poder de modo nenhum comparar aos alpinistas que mencionei neste blog, creio que tenho uma percepção mais objectiva da dificuldade dos seus feitos do que a maioria das pessoas. Depois dos posts sobre George Mallory e João Garcia, a Joana fez-me chegar um livro sobre Claude Kogan.

Claude Kogan era em 1954 uma alpinista francesa muito experiente, que integrava uma expedição ao Cho Oyu, um dos gigantes da cordilheira himalaiana. O homem que liderava a expedição decidiu que a tentativa de cume seria abortada e que a equipa regressaria. Claude não concordou e, nas suas palavras, sentiu-se "a ferver com uma raiva impotente". Cinco anos depois regressou ao Cho Oyo para liderar uma expedição 100% feminina, em que nem o jornalista tenha autorização para passar de Katmandu. Apenas os sherpas podiam acompanhar. Claude, outra alpinista e dois sherpas acabaram por morrer debaixo de uma tempestade, em consequência de uma avalanche .

Nalgum balcão de taberna poder-se-ia ouvir "bem feito." Mas os corpos de todos os homens que permanecem nas encostas dos Himalaias atestam que Claude pode ter morrido por muita coisa. Mas não por ser mulher.

PS - ainda não tenho notícias da ESA, mas não passaram as seis semanas.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Hotel Baikonur

Na minha pele de cientista, uma das coisas que faço são cristais de proteínas. Simplesmente isso, pego nas proteínas, alinho as moléculas todas da mesma maneira, de modo a que se disponham de um modo ordenado, numa espécie de parede de azulejos em três dimensões.

Na verdade não é assim tão simples, implica utilizar um robot para experimentar centenas de maneiras de cristalizar a proteína, porque as proteínas, tal como as outras coisas, têm mais modos de existir num estado desordenado do que arrumadinho.

Houve quem se tivesse lembrado, que talvez as moléculas de proteína tivessem mais facilidade em organizar-se se não sentissem o próprio peso. E começaram a enviar proteínas para o espaço.

O Paco enviou-me algumas imagens da missão Andrómeda. Ele enviou proteínas até Baikonur, no Cazaquistão (de onde foi lançada a missão que levou Yuri Gagarini para o primeiro voo orbital). Foram à boleia na Soyuz, cristalizaram, estiveram 72 dias onde não há peso e trazidas de volta.

Laboratório improvisado num quarto de hotel em Baikonur

Cristais crescidos no espaço

(Obrigado ao Paco pelas imagens!)

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Quanto é que ganha um astronauta?

O nuclio propôs-me uma conversa com as estrelas da Festa das Estrelas, adolescentes envolvidos em projectos de astronomia na escola. Alguns eram fotógrafos de estrelas e cometas, outros viajantes de Marte, havia ainda aquecedores do Sol.

A ideia era falar sobre o processo de candidatura a astronauta.

Esclareci que a diferença entre mim e qualquer outra pessoa é apenas a iniciativa de me candidatar e mais informação sobre o processo. Aceitei. Outros candidatos foram convidados, acabámos por ir só eu e a Sílvia.

Plateia de jovens inteligentes e pro-activos.

"Quanto é que ganha um astronauta?"

[não faço a mínima ideia!]

"Não sei... deve ganhar menos que qualquer jogador do plantel do Benfica"

"Por isso é que eu jogo futebol"

[E eu, ainda vou a tempo?]

Seis semanas

Dear David Marçal,

We would like to inform you that your application has been submitted successfully and in time. We will now begin our evaluation and contact you within the next six weeks.

Once submitted, you can check the status of your application by browsing your data file where you can see the sentence "Your application has already been submitted and can not be changed" on each data page. This indicates a successful closure of your database.

Kind regards,

European Space Agency

Sete vidas

Às vezes as minhas sete vidas encontram-se num cruzamento qualquer. Outro dia, com a cabeça no espaço e o corpo puxado para o centro da Terra, pensava em possíveis textos para o Inimigo Público. Ocorreu-me um que era mais ou menos assim:

Astronautas portugueses vão trabalhar a recibos verdes e ser dispensados em órbita

Acabou por não acontecer.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Cabeça no espaço

A próxima fase no processo de selecção é uma ronda de testes psicológicos. A ESA disponibilizou no seu site alguns testes semelhantes aos que serão feitos aos candidatos.


terça-feira, 24 de junho de 2008

8413

A ESA divulgou os números das candidaturas a astronauta. 7586 homens e 1430 mulheres enviaram o certificado médico classe 2 e preencheram o formulário de candidatura on-line. Os quatro novos astronautas estão entre estes 8413 candidatos de todos os países membros da ESA.

210 candidatos portugueses, 192 homens e 28 mulheres.