Neste blog tenho misturado algumas coisas do imaginário do alpinismo. Talvez porque encontre uma relação entre a aventura de explorar uma montanha e a exploração espacial, mas sem dúvida porque também já coloquei uns crampons nas botas e me fiz às encostas geladas de mochila às costas e piolet na mão. Por vezes não sei como continuei, noutras voltei. Em 2005, ao regressar de uma tentativa falhada do cume do Montebranco pela via dos três colos (uma via muito longa do lado francês) vendi mentalmente todo o meu material de alpinismo no Ebay, enquanto me arrastava para a Aguille du Midi. Pensei em tudo: preços, descrições do estado e data da compra original, razões da venda. E foi assim que continuei a pôr um pé à frente do outro. Acabei por não vender nada e regressar aos Alpes mais duas vezes.
Apesar de não me poder de modo nenhum comparar aos alpinistas que mencionei neste blog, creio que tenho uma percepção mais objectiva da dificuldade dos seus feitos do que a maioria das pessoas. Depois dos posts sobre George Mallory e João Garcia, a Joana fez-me chegar um livro sobre Claude Kogan.
Claude Kogan era em 1954 uma alpinista francesa muito experiente, que integrava uma expedição ao Cho Oyu, um dos gigantes da cordilheira himalaiana. O homem que liderava a expedição decidiu que a tentativa de cume seria abortada e que a equipa regressaria. Claude não concordou e, nas suas palavras, sentiu-se "a ferver com uma raiva impotente". Cinco anos depois regressou ao Cho Oyo para liderar uma expedição 100% feminina, em que nem o jornalista tenha autorização para passar de Katmandu. Apenas os sherpas podiam acompanhar. Claude, outra alpinista e dois sherpas acabaram por morrer debaixo de uma tempestade, em consequência de uma avalanche .
Nalgum balcão de taberna poder-se-ia ouvir "bem feito." Mas os corpos de todos os homens que permanecem nas encostas dos Himalaias atestam que Claude pode ter morrido por muita coisa. Mas não por ser mulher.
PS - ainda não tenho notícias da ESA, mas não passaram as seis semanas.
Apesar de não me poder de modo nenhum comparar aos alpinistas que mencionei neste blog, creio que tenho uma percepção mais objectiva da dificuldade dos seus feitos do que a maioria das pessoas. Depois dos posts sobre George Mallory e João Garcia, a Joana fez-me chegar um livro sobre Claude Kogan.
Claude Kogan era em 1954 uma alpinista francesa muito experiente, que integrava uma expedição ao Cho Oyu, um dos gigantes da cordilheira himalaiana. O homem que liderava a expedição decidiu que a tentativa de cume seria abortada e que a equipa regressaria. Claude não concordou e, nas suas palavras, sentiu-se "a ferver com uma raiva impotente". Cinco anos depois regressou ao Cho Oyo para liderar uma expedição 100% feminina, em que nem o jornalista tenha autorização para passar de Katmandu. Apenas os sherpas podiam acompanhar. Claude, outra alpinista e dois sherpas acabaram por morrer debaixo de uma tempestade, em consequência de uma avalanche .
Nalgum balcão de taberna poder-se-ia ouvir "bem feito." Mas os corpos de todos os homens que permanecem nas encostas dos Himalaias atestam que Claude pode ter morrido por muita coisa. Mas não por ser mulher.
PS - ainda não tenho notícias da ESA, mas não passaram as seis semanas.
10 comentários:
Gosto da forma como escreves. Tens humor e sentido crítico. De vez em quando venho dar uma olhadela a ver se há novidades.
Gosto de ti, embora mal te conheça...
É um comentário desarmante ctrl-x, deixas-me praticamente sem palavras, excepto um muito obrigado. Espero que continues a vir e a gostar :-)
Oi David,
Tambem gosto da forma como escreves e de ti... e ate te conheco um pouquito...
Mas nao entendi o "feminista"... a Claude era feminista?
Picuinhas, creio que "o feminista" é a garra que Claude demonstrou neste contexto, coisa que Darwin também o fez, ainda que numa outra perspectiva. As mulheres, embora que não todas, não precisam de ser considerar feministas para o serem de certa forma. As constantes estratégias que tendem a desenvolver centradas inevitavelmente nos valores masculinos, como esta "garra", são de certa forma um tipo de "racionalidade feminista", que é comum na mulher moderna.
Uma história bonita.
Zé Teixiera
Olá vi-te na sicmulher e retirei o teu endereço de blog...mas o que me fascinou mesmo foi a tua beleza;)
Boa sorte
Ana Marisa
Obrigado Ze.
Continuo a gostar bastante da historia e da protagonista. COntinuo tambem achar o "feminista" um pouco exagerado e estrategico. Mas acho que tens razao, vale como estrategia implicita que parece ate ter tido bons resultados. A sua maneira...
Picuinhas :-) Então não achas que uma mulher que fica a ferver de raiva por causa de uma decisão de um homem, tanta, que anos depois volta à montanha com uma equipa 100% feminina, não é feminista? Se não houvesse uma questão de género, ela poderia simplesmente regressar como líder de uma expedição que integrasse homens e mulheres. Eu vejo aqui a intenção de demonstrar que as mulheres são tão capazes como os homens de subir e tomar decisões numa montanha como esta.
Perdoem-me a forma como teci o meu comentário. Não queria de forma alguma menosprezar a beleza implícita neste episódio. Como disse, esta é um história bonita.
Zé Teixeira
Oi David,
Pois isso era o que queria saber. Nao li o livro e sei pouco de montanhismo, por isso nao sabia se a Claude escolheu a equipa que escolheu por achar serem os melhores membros de uma equipa para cumprir esse objectivo ou se era somente para mostrar algo diferente que a pura paixao de "ir ao cimo porque ele esta la".
Se foi a primeira razao, acharia como tu que ha muita razoes para terem falhado. Se foi a segunda, acho o mesmo, com a salvaguarda que uma das razoes foi provavelmente alguma irresponsabilidade de uma chefe que nao priorizou a qualidade da equipa em relacao a outras caracteristicas, quanto a mim espurias para a paixao que admiro em *todos* os montanhistas!
Como te disse, nao li o livro e sou completamente leigo nestas materias. Dai a minha duvida... pelo que dizes agora parece de facto que ela era feminista...
Revi-me na tua crónica. Comigo também é assim, também tenho uma técnica para me abstrair da dureza do caminho.
Olho cada pedra que piso, cada floco de neve debaixo dos crampons, cada mariola, e tento reconhecer o caminho a partir de fotos que vi na net e relatos que li. E tudo está lá, foto por foto, palavra por palavra...e penso "este é o caminho certo, é o meu caminho!" :-)
Parabéns pela tua escrita.
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