segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A cientista das estrelas

Texto do jornalista Micael Pereira publicado, na Revista Única do Expresso de 27 de Setembro de 2008 acerca da Sílvia, sobre quem já várias vezes aqui escrevi.

Sílvia Vicente
A cientista das estrelas que pensou ir a Marte
Uma das dez candidatas portuguesas a astronauta vai trabalhar para a Agência Espacial Europeia.

Fotografia: Expresso/Tiago Miranda

Ficou com essa fixação desde que, em 2004, foi a um curso na Áustria sobre como é viver e trabalhar no espaço, organizado pela agência espacial austríaca e pela Agência Espacial Europeia (ESA). A equipa de Sílvia Vicente tinha uma missão ambiciosa: encontrar água e vida em Marte. Era apenas um exercício, mas a então doutoranda de Astronomia e bolseira em Munique do ESO, o Observatório Europeu do Hemisfério Sul, soube que poderia ter uma hipótese quando abrissem o novo concurso para astronautas europeus, de que já se falava na altura.

Em Maio deste ano, quando a ESA abriu finalmente quatro vagas para todos os 17 países-membros, Sílvia concorreu. Foi uma das 10 portuguesas candidatas (de um total de 210 portugueses), mas já soube que não passou à fase seguinte, apesar do currículo em Física (na Faculdade de Ciências de Lisboa), da experiência internacional, da boa forma (faz dança desde os sete anos, tendo sido aluna da escola Norma Croner) e do seu lado sociável (no ESO, dava aulas de salsa aos outros investigadores).

Não está triste: "Para mim, ser astronauta sempre foi uma utopia". Quando os quatro eleitos forem escolhidos, no final do ano, Sílvia já estará na própria ESA, na Holanda, depois de ter ganho uma bolsa da estação espacial. Serão colegas, ela e os futuros astronautas. A investigadora portuguesa vai continuar a trabalhar no tema da sua tese de doutoramento: a fase inicial da formação de estrelas e planetas, no primeiro milhão de anos de vida.

Sílvia tem-se dedicado a observar discos protoplanetários - nuvens de gás e poeira que rodeiam estrelas bebés - no trapézio da constelação de Orionte. Demasiado longe para um astronauta lá ir.

Micael Pereira

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"Is that alcohol?"

Trinity College, Dublin mas não parece, o sol sente-se bem quando sai de trás da nuvem. Três estudantes, raparigas, sentam-se no relvado quase alinhadas com a placa que diz "Ná gabh ar na pairceanna imerartha, led thoil, Please keep of the playing fields". Não faz mal, há outras pessoas que o fazem, não tão perto da placa, é certo. Hora de almoço, que salta das malas em caixinhas transparentes de plástico com etiquetas. Não são malas escolares, são malas como as que as senhoras usam para levar ferros de engomar e tijolos. Salta também uma garrafa de champanhe e a rolha com o som característico. Não tinham decorrido nem 10 segundos do salto da rolha e aparece um polícia, desarmado. Levanto definitivamente os olhos do meu livro.

- Isso é álcool?

(Tão evidente quanto ele ser um polícia)

- Não é permitido beber no campus.

Fazem menção de voltar a colocar a rolha, mas deparam-se com as leis da física.

- Certifiquem-se de que essa rolha fica bem posta.

Após alguma hesitação uma delas, sorridente, pega na garrafa, levanta-se e deita-a no lixo. Apesar da placa "Keep of the playing fields", o polícia dá-se por satisfeito e vai-se. Elas terminam a refeição divertidas, com morangos, sem uma ponta detectável de indignação e sem ensaiarem o resgate da garrafa do caixote do lixo. Pergunto-me se isto acontecerá exactamente assim todos os dias ou só quando está bom tempo.

Tudo isto me leva a concluir que o Trinity College de Dublin não é um bom sítio para beber copos.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Magalhães dado

"It is a miracle that curiosity survives formal education”, Albert Einstein

O governo distribui os primeiros PC Magalhães pelas escolas. Alguns comentários sobre o assunto, no âmbito das minhas costelas geek e cyber-punk.

1. É bom que os seres humanos jovens tenham acesso a computadores. Sejam quais forem, é sempre preferível terem do que não terem.

2. O Magalhães é um computador português na medida em que é produzido em Portugal por uma empresa portuguesa. Trata-se no entanto do Classmate PC da Intel, um modelo criado para as crianças de países em vias de desenvolvimento que a Intel procura produzir nos mercados de destino para estimular as economias locais. Assim, tem a designação Anoa (na Indonésia), Mileap-X series (Índia), Mobo kids (Brasil) ou Magalhães. Isto não tem nada de mal. É só que quando vejo as notícias nacionais, nem sempre me fica inteiramente claro.

3. Vale a pena falar [Até porque é mais fotogénico!] no concorrente do Classmate PC, que se chama XO e foi desenvolvido pela organização sem fins lucrativos One Laptop Per Child (OLPC), fundada por Nicholas Negroponte, antigo director do Media Lab do MIT.


A OLPC pretende produzir computadores portáteis por menos de 100 dólares, acessíveis a crianças de regiões pobres do mundo. O XO é bastante inovador, a começar pelas suas insólitas antenas que funcionam substancialmente melhor do que uma antena wireless normal e que propositadamente têm uma aparência lúdica. O interface, especificamente concebido, é construído em software livre e de código aberto. E parte da premissa educacional disruptiva que as crianças vão aprender a usá-lo por si e ensinar-se umas às outras.

A primeira versão do XO teve processadores AMD. Em paralelo, a Intel desenvolvia o seu próprio PC de baixo custo. Mais tarde a Intel juntou-se ao OLPC tendo em vista a produção de uma segunda versão do XO com processadores Intel. O casamento entre a empresa e organização sem fins lucrativos não correu bem e o divórcio não foi bonito. A OLPC acusou a Intel de nunca ter estado realmente naquele casamento, que não contribuía com ideias e que minava o XO com o Classmate, vendendo-o abaixo do custo de produção. A Intel argumentou que a OLPC fez a exigência absurda que a Intel abandonasse o Classmate.

4. Nalguns casos o Classmate PC vem numa versão Linux. No entanto, o Magalhães em Portugal é distribuído com o Microsoft Windows. Na minha opinião seria preferível apresentar aos alunos uma perspectiva de partilha de conhecimento com software livre (livre, como em liberdade) e de código aberto. O Linux (software livre) é como ter um jogo que podemos desmontar, ver como é por dentro e até modificar. O Windows é uma caixa bem fechada, opaca e protegida contra a intrusão. Não é que cada criança vá modificar os programas e ferramentas que utiliza. Mas para quê pôr-lhes um tecto?

PS - Afinal o Magalhães vem com o Linux Caixa Mágica e o Windows XP em dual boot. Ou seja, é possível escolher no momento do arranque qual dos sistemas operativos se quer utilizar. Que dizer? Concordo! Ainda não consegui perceber (e gostava!) que género de acordo foi estabelecido com a Microsoft para o Magalhães.

sábado, 20 de setembro de 2008

O mundo foi criado em apenas 5,6 dias

[Mais um texto de Humor-ciência publicado no Inimigo Público]

Deus pode ter sido mais rápido do que se pensava. Tal como o físico João Magueijo propôs que a velocidade da luz não é constante, questionando um dos paradigmas da relatividade de Einstein, também a velocidade de Deus pode ser variável. Segundo a teoria VGS (Varying God Speed, na sigla inglesa), nos tempos primordiais (até ao sétimo dia) a velocidade de Deus poderá ter sido mais elevada. Uma das consequências é que Deus não descansou o sétimo dia inteiro, o que poderá permitir a abertura dos hipermercados ao domingo.


Na relatividade criacionista a velocidade da luz (c) é substituída pela velocidade de Deus (D)
Imaginemos um observador na Arca de Noé que se desloca à velocidade de Deus. Outro observador está parado, empoleirado em cima de um ramo de oliveira. E que há uma vela acesa na arca. O observador na arca vê a luz fazer um percurso rectilíneo até um espelho pendurado no mastro. Já o observador empoleirado em cima do ramo de oliveira vê a luz fazer uma trajectória obliqua. Essa trajectória é obviamente maior do que a trajectória rectilínea vista pelo observador dentro da arca. Se a velocidade de Deus é constante, e se visto de fora o percurso da luz é maior, o tempo tem que ter passado mais rápido para o observador dentro da arca de Noé.

Controvérsia: o estado a que a economia portuguesa chegou foi criado ou resulta de evolução?
Manuela Ferreita Leite acredita que estado actual da economia portuguesa é fruto do "intelligent design", e que esta teoria deve ser ensinada nos debates e comentários na televisão, em paralelo com a "teoria da evolução para a crise". Segundo a líder do PSD, o estado calamitoso da economia portuguesa não pode ser fruto de um processo evolutivo com base em mudanças aleatórias e selecção natural, pois a sua complexidade indica a existência de uma inteligência sobrenatural a desenhar o buraco em que Portugal se enfiou. Ferreira Leite acredita que a vontade desse Ser (a que chama Vasco) se manifestou nos Primeiros-Ministros em funções desde o 25 de Abril (excepto em Cavaco) e que o PREC foi uma espécie de génesis.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Humor Ciência: O Impossível é banal

[Mais um incrível off-topic ao tema fundador deste blog, depois do alpinismo, o humor-ciência. Um texto meu publicado recentemente no Inimigo Público. Em breve, algumas dicas de culinária]

O impossível é banal e até mesmo aborrecido segundo a física teórica actual
O físico teórico norte-americano, Michio Kaku defende que alguns temas da ficção científica poderão tornar-se realidade, sem problemas. O livro "A Física dos Impossíveis" deverá chegar às livrarias portugueses Portugal no próximo Outono, apesar de apenas ser impresso em Abril de 2010. O volume será desintegrado na livraria por um potente raio LASER, rematerializando-se em simultâneo na mesa de cabeceira do leitor. O mesmo acontece à factura, que poderia permitir alguma reclamação. O Inimigo deixa aqui o essencial de Michio Kaku acerca dos temas mais polémicos.

Teletransporte
O problema actual do teletransporte é que se tenta começar pelo mais difícil, coisas muito pequeninas e difíceis de ver, como fotões. O teletransporte tem duas fases, a desintegração do objecto original no local de partida e a rematerialização no local de chegada. Por exemplo, se partir à martelada um vaso Ming do século XIII, mesmo que não consiga rematerializá-lo no local de chegada, já é meio caminho andado para o teletransporte.

Invisibilidade
A invisibilidade já é uma realidade, sendo possível camuflar um avião da radiação micro-ondas (radar) ou a Manuela Ferreira Leite na paisagem política portuguesa. A invisibilidade funciona particularmente bem com radiação micro-ondas, que à partida também já não se vê (olhe para o seu micro-ondas ligado e veja se vê a radiação, vai ver que não).

Viagens no tempo
A questão das viagens no tempo tem essencialmente a ver com o sentido. O próprio Michio Kaku já viajou cerca de 61 anos no tempo desde que nasceu em 1947.

Contacto com extraterrestres
Basta ler os jornais ou assistir a uma sessão da Assembleia Legislativa da Madeira.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Procuram-se ex-futuros astronautas

Peço aos candidatos eliminados no processo de selecção para astronautas da ESA que enviem um email para o endereço no meu perfil. A ideia não é fazer uma agência espacial própria e chegar a Marte antes da NASA e da ESA, mas essa também é boa.