quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Magalhães dado

"It is a miracle that curiosity survives formal education”, Albert Einstein

O governo distribui os primeiros PC Magalhães pelas escolas. Alguns comentários sobre o assunto, no âmbito das minhas costelas geek e cyber-punk.

1. É bom que os seres humanos jovens tenham acesso a computadores. Sejam quais forem, é sempre preferível terem do que não terem.

2. O Magalhães é um computador português na medida em que é produzido em Portugal por uma empresa portuguesa. Trata-se no entanto do Classmate PC da Intel, um modelo criado para as crianças de países em vias de desenvolvimento que a Intel procura produzir nos mercados de destino para estimular as economias locais. Assim, tem a designação Anoa (na Indonésia), Mileap-X series (Índia), Mobo kids (Brasil) ou Magalhães. Isto não tem nada de mal. É só que quando vejo as notícias nacionais, nem sempre me fica inteiramente claro.

3. Vale a pena falar [Até porque é mais fotogénico!] no concorrente do Classmate PC, que se chama XO e foi desenvolvido pela organização sem fins lucrativos One Laptop Per Child (OLPC), fundada por Nicholas Negroponte, antigo director do Media Lab do MIT.


A OLPC pretende produzir computadores portáteis por menos de 100 dólares, acessíveis a crianças de regiões pobres do mundo. O XO é bastante inovador, a começar pelas suas insólitas antenas que funcionam substancialmente melhor do que uma antena wireless normal e que propositadamente têm uma aparência lúdica. O interface, especificamente concebido, é construído em software livre e de código aberto. E parte da premissa educacional disruptiva que as crianças vão aprender a usá-lo por si e ensinar-se umas às outras.

A primeira versão do XO teve processadores AMD. Em paralelo, a Intel desenvolvia o seu próprio PC de baixo custo. Mais tarde a Intel juntou-se ao OLPC tendo em vista a produção de uma segunda versão do XO com processadores Intel. O casamento entre a empresa e organização sem fins lucrativos não correu bem e o divórcio não foi bonito. A OLPC acusou a Intel de nunca ter estado realmente naquele casamento, que não contribuía com ideias e que minava o XO com o Classmate, vendendo-o abaixo do custo de produção. A Intel argumentou que a OLPC fez a exigência absurda que a Intel abandonasse o Classmate.

4. Nalguns casos o Classmate PC vem numa versão Linux. No entanto, o Magalhães em Portugal é distribuído com o Microsoft Windows. Na minha opinião seria preferível apresentar aos alunos uma perspectiva de partilha de conhecimento com software livre (livre, como em liberdade) e de código aberto. O Linux (software livre) é como ter um jogo que podemos desmontar, ver como é por dentro e até modificar. O Windows é uma caixa bem fechada, opaca e protegida contra a intrusão. Não é que cada criança vá modificar os programas e ferramentas que utiliza. Mas para quê pôr-lhes um tecto?

PS - Afinal o Magalhães vem com o Linux Caixa Mágica e o Windows XP em dual boot. Ou seja, é possível escolher no momento do arranque qual dos sistemas operativos se quer utilizar. Que dizer? Concordo! Ainda não consegui perceber (e gostava!) que género de acordo foi estabelecido com a Microsoft para o Magalhães.

3 comentários:

Anónimo disse...

David,

Nao concordo com o ponto 1. Computadores podem ser altamente prejudiciais a educacao. Parece-me que estas a ser demasiado reducionista...
Mas concordo que, no contexto onde os magalhaes sao usados, e um melhoramento... quaisquer que sejam os comentarios das mas e experientes linguas... ;-)

Acho tambem que no ponto 4, transpareces demasiado a tendencia generalizada do "no limits" que comeca a propagar-se. Talvez tenhas alguma intencao jornalistica por tras para o fazeres. Mas acho que aqui poderias ter algum cuidado. Eu sei que tu nao es pai, mas acredita que muitos ha que veem a boa educacao dos filhos como aquela onde existe o menor numero de limites e regras possiveis. Tambem sei que quando falas de "tecto" nao te referes a isso. Mas, como eu sou leitor e tu jornalista, achei que te devia chamar a atencao para isto. Claro que podes sempre dizer que "nao me vou limitar de escrever o que quero". Mas acho que, como nao fazes parte do main stream irreflectido da sociedade moderna, entendes o que quero dizer.

David Marçal disse...

picuinhas,

Em relação ao ponto 1 concordo com que dizes. Claro que os compudadores podem ser bastante prejudiciais, nomeadamente se a sua utilização for desproporcionada, de modo a eclipsar outras. Estava a falar, claro, do acesso.

No ponto 4, compreendo o que dizes, espero que não se leia no post uma apologia da libertinagem em que os educadores se desresponsabilizam de colocar o tectos. Acrescentei uma frase ao post que espero que clarifique e que posicione a frase no ponto de vista adequado.

Anónimo disse...

David,

Como leitor achei perfeita a modificacao. Ambos Linux e Windows sao como carros telecomandados, mas o Linux e de LEGO e o Windows nao.
Claro que se calhar ate se torna mais conveniente nao levar lego para brincar livremente com carros telecomandos no descampado do parque de campismo, principalmente quando o primeiro passo e por o carro a funcionar... Alem de que na educacao nao se devem catalizar fundamentalismos... Mas concordo contigo: em geral gosto muito mais de lego, talvez porque usei muitos carros telecomandados quando era pequeno. Acho que tive uma boa educacao... ;-)