quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A Igreja do Monstro de Esparguete Voador


Converti-me recentemente à Igreja do Monstro de Esparguete Voador e acredito firmemente que o mundo foi criado por um monstro voador feito de esparguete. Penso que é imperativo ensinar mais esta teoria de intelligent design, a par com todas as outras, para que cada um possa formar uma opinião crítica e informada acerca da origem do universo e das espécies, e isso.

Mais informação acerca do Esparguete-voador-monstrismo pode ser encontrada nesta brochura.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Stupid design


O meu texto do último Inimigo Público:

"Stupid design" é a nova corrente para explicar o mundo e a biodiversidade

Certas características do universo e do mundo vivo são melhor explicadas por uma causa estúpida, e não por um mecanismo indirecto como a selecção natural. O mundo é tão estúpido que tem que ter havido um Supremo Imbecil a desenhar as formas de vida e o mundo, é o que acreditam os adeptos do desenho estúpido. O Inimigo apresenta alguns exemplos que demonstram a existência do Supremo Imbecil:

- Os mamilos dos machos têm uma função ornamental. O Supremo Imbecil acha que os mamilos são uma espécie de galos de Barcelos para pôr em cima da televisão.

- 95% do DNA humano não contém genes e está lá só para dar um ar complicado à coisa. O Supremo Imbecil não esteve para se chatear muito.

- A utilidade do cromossoma Y, exclusivamente masculino, é permitir aos homens terem pêlos nas orelhas. O Supremo Imbecil achou que dava para fazer penteados giros.

- Os dentes do cachalotes, o maior mamífero com dentes, não servem para nada. O Supremo Imbecil pensou que iriam ter utilidade em anúncios a lula gigante enlatada, com cachalotes a sorrir.

- A cauda do espermatozóide da mosca da fruta é vinte vezes maior do que o seu próprio corpo e mil vezes maior do que a de um espermatozóide humano. O Supremo Imbecil trocou.

- As orelhas humanas não mexem. Apesar de terem musculatura são completamente inúteis para afugentar Drosophila melanogaster (vulgo, moscas de Sarah Pallin).

- A maioria das machos das aves não têm pénis e a maneira de copular é esfregando as aberturas genitais uma na outra. O Supremo Imbecil fez os pássaros ao mesmo tempo que as lésbicas, e pelo meio recebeu um telefonema.

- Um electrão é simultaneamente uma onda e uma partícula. O Supremo Imbecil não se conseguiu decidir.

David Marçal

sábado, 24 de janeiro de 2009

Alpinismo e homossexualidade

George Leigh Mallory foi um exímio e destemido alpinista. Herói da I Guerra Mundial, com uma enorme experiência de escalada nos Alpes e em Gales, fez parte da expedição britânica de reconhecimento do Everest em 1921 e destacou-se num dos primeiros ataques ao cume da montanha mais alta do mundo no ano seguinte. Quando morreu, em 1924 na face norte do Everest, era sem discussão o melhor alpinista britânico do seu tempo. Ninguém desceria para contar que subiu ao cume do Everest antes de 1953 (por altura em que se propunha a estrutura em dupla hélice do ADN).

A última fotografia de George Mallory e Sandy Irvine

Expedição de 1924

Em 1999 o corpo de George Mallory foi encontrado a cerca de 8300 metros de altitude. Os alpinistas que o descobriram ficaram pasmados. As roupas eram simplesmente um amontoado de camadas de roupa quotidiana (camisa!), o material de segurança praticamente inexistente, a corda não aguentaria uma verdadeira queda (na realidade não aguentou, foi encontrada partida) e as botas em absoluto ineficazes para progressão em glaciar. Em 1924 não se poderia recorrer a uma série de "ajudas" dos tempos de hoje, como cordas fixas e uma escada colocada no second step por uma expedição chinesa nos anos 60. As vias de ascensão não eram conhecidas e não se sabia se seria possível a um ser humano sobreviver, mesmo que por breves momentos, no cume do Everest. Os sistemas de oxigénio suplementar tinham tantas fugas e eram tão pesados que suscitava debate a sua real utilidade. Não tinham como se proteger do frio, o calçado era inadequado para progredir sobre o gelo ou neve dura, as cordas partiam e não sabiam por onde ir. Era necessária uma audácia e espírito de aventura inimagináveis.

Por qualquer medida que se tome, George Mallory era um expoente das características superlativas da masculinidade.

Não era só isso. Mallory era considerado um homem muito bonito e tinha um genuíno interesse pelas artes. Estudou em Cambridge, envolveu-se no ambiente do teatro, música e pintura, várias vezes pousou nu para o pintor Ducan Grant (homossexual assumido). Grant chegou mesmo a gabar-se de que Mallory terá sido seu amante. Não quer isto dizer, de modo algum, que tal seja verdade. De qualquer forma, o clima de Cambridge (e de Oxford) na primeira década do século XX era um ambiente muito tolerante à homossexualidade, com manifestações de amor assumidas entre homens.

Não há qualquer prova de que Mallory, mais tarde casado e com filhas, tenha tido alguma experiência homossexual. No entanto assumiu (numa carta enviada à sua mulher!) quando estava na Guerra o fascínio por um soldado extremamente bonito que havia encontrado nas trincheiras no dia anterior.

George Mallory

Há mesmo um biografo de Mallory que sugere que a escolha do inexperiente jovem Sandy Irvine (22 anos sem nenhuma época nos Alpes!) como seu companheiro de cordada na fatal tentativa ao cume do Everest em 1924 terá tido motivos românticos. Esta tese é facilmente desmontada, há várias razões circunstanciais e práticas que justificam a escolha (era um dos alpinistas mais frescos, mais fortes e o que melhor sabia utilizar e reparar o equipamento de oxigénio). De qualquer forma a hipótese é legitima dado o ambiente que se vivia em 1924 entre a elite de aventureiros britânicos.

Em breve os reclusos homossexuais vão poder receber visitas íntimas e coloca-se a hipótese do casamento entre pessoas do mesmo sexo na próxima legislatura. Temos tendência a pensar que o nosso tempo é a vanguarda social e política do ocidente. Mas dá-me ideia que o campo base do Everest ou a Universidade de Cambridge serão hoje ambientes menos tolerantes á homossexualidade do que em 1924.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A Comissão Reguladora do Conselho Regulador da Entidade Reguladora da Comunicação Social?

Fiquei a saber que existe o Conselho Regulador da Entidade Reguladora da Comunicação Social. Mas quem regula o Conselho Regulador da Entidade Reguladora da Comunicação Social?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Cientistas continuam em saldos

Na sequência do post anterior (a propósito da importância dos bolseiros na formação de uma das mais importantes empresas de base tecnológica em Portugal, a Ydreams) reproduzo aqui um texto de opinião que publiquei no Público há uns meses:
Sabia que há cientistas que ganham 745 euros? Que não têm direito a subsídio de desemprego, férias, Natal ou alimentação? Que não são aumentados há seis anos? Está naturalmente curioso de saber em que país, mas estou certo de que já adivinhou.

São os bolseiros de investigação científica! Uma designação infeliz para os jovens (e menos jovens) investigadores, pois classifica-os pelo tipo de regime contratual com que exercem funções, secundarizando a natureza da actividade (investigação). Faz tanto sentido como descrever um juiz como um "assalariado da justiça".

Os bolseiros podem-se distinguir segundo o tipo de bolsa que têm. Os BIC (bolsa de investigação científica) são licenciados e, independentemente da sua experiência ou competências, ganham 745 euros. Os BD (bolsa de doutoramento) têm em geral um excelente percurso académico e científico (não é fácil ganhar a bolsa!), são investigadores experientes e motivados, ganham 980 euros. O mesmo valor desde 2002, o que representa face à inflação acumulada uma perda de 18 por cento do poder de compra.

Pode-se argumentar que os bolseiros "estão em formação" e que "já é uma sorte estarem a ser pagos". Mas trata-se de adultos (uma licenciatura não se acaba antes dos 22-23 anos) com contas para pagar e legítimo direito à emancipação (ou um cientista tem que viver em casa dos pais?). E quanto à formação, creio que qualquer bom profissional está sempre em formação. Todas as carreiras têm fases e o doutoramento é apenas uma fase da carreira de um cientista.

Os bolseiros têm direito ao chamado "seguro social voluntário" - que é uma espécie de não sei o quê. Basicamente, a entidade que concede a bolsa paga contribuições para a Segurança Social, equivalentes ao salário mínimo. Este é o regime pelo qual estão abrangidas as pessoas que não têm rendimentos. Por que raio enfiaram os jovens investigadores aqui? Fazendo o Governo gala de integrar todas as classes profissionais no regime geral de Segurança Social, que coerência tem não incluir os bolseiros? Esta reivindicação tem sido sucessivamente negada pela tutela. Para que não haja dúvidas: os jovens investigadores querem ser integrados num regime de Segurança Social que outros grupos profissionais não querem porque acham que é mau!

Penso que é necessário criar a percepção social deste problema e da necessidade de evolução, começando pelos próprios investigadores e professores do quadro que trabalham com bolseiros e que beneficiam do seu trabalho, com quem publicam artigos e escrevem patentes. Creio que seria de todo justo e adequado que os cientistas e investigadores estabelecidos tomassem pública e politicamente o partido dos jovens investigadores. A alternativa é continuar o choradinho da fuga de cérebros. Não há fuga de cérebros. Há expulsão de cérebros. Se não fazem falta, isso é outra história. Mas sendo assim, digam.
Na altura decorria um processo de negociação com a tutela para a revisão do Estatuto do Bolseiro de Investigação Científica, que define as condições em que os bolseiros exercem a sua actividade. Depois de avanços a passo de caracol e recuos a galope, o Ministério da Ciência e Tecnologia mostrou-se finalmente interessado em falar com a associação que representa os bolseiros (ABIC) sobre a revisão do tal estatuto.

Já passaram quase quatro meses e nada mudou. Os cientistas continuam em saldos. Se calhar só depois do mundial de 2018?

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009