Na minha pele de cientista, uma das coisas que faço são cristais de proteínas. Simplesmente isso, pego nas proteínas, alinho as moléculas todas da mesma maneira, de modo a que se disponham de um modo ordenado, numa espécie de parede de azulejos em três dimensões.
Na verdade não é assim tão simples, implica utilizar um robot para experimentar centenas de maneiras de cristalizar a proteína, porque as proteínas, tal como as outras coisas, têm mais modos de existir num estado desordenado do que arrumadinho.
Houve quem se tivesse lembrado, que talvez as moléculas de proteína tivessem mais facilidade em organizar-se se não sentissem o próprio peso. E começaram a enviar proteínas para o espaço.
O Paco enviou-me algumas imagens da missão Andrómeda. Ele enviou proteínas até Baikonur, no Cazaquistão (de onde foi lançada a missão que levou Yuri Gagarini para o primeiro voo orbital). Foram à boleia na Soyuz, cristalizaram, estiveram 72 dias onde não há peso e trazidas de volta.
2 comentários:
e quais os resultados? qual a influência da gravidade na qualidade/quantidade/produtividade da cristalização?
No caso particular das proteínas do laboratório do Paco não houve nenhuma melhoria relevante na qualidade dos cristais crescidos fora da Terra. Como observação pessoal, não é uma situação optima esperar 72 dias para usar um cristal.
Há vários trabalhos que comparam a qualidade dos cristais crescidos em micro-gravidade com os cristais crescidos na Terra. Estatisticamente melhoram em 50% dos casos. (o Paco teve azar!)
Outra questão interessante é porque é que melhoram em microgravidade. Parece que é por causa da diminuição da difusão do liquido na solução mãe do cristal.
Ainda mais interessante é tentar imitar esse efeito na Terra. Uma hipótese é usar uma rede de agorose (um polímero extraído de algumas algas, muito vulgar nos laboratórios) para reduzir a difusão, reproduzindo assim o efeito relevante da ausência de gravidade.
Este artigo fala dessas coisas:
(apesar de o conteúdo total ser pago)
Gotas de cristalização com agarose, nós já experimentámos no laboratório, com bons resultados. É um caso interessante de ir buscar conhecimento ao Espaço.
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