O modo como fazemos as bactérias trabalhar para nós, ou seja produzir uma proteína que não é delas e não lhes serve para nada, mas que nos interessa, tem a sua inteligência e perversão.
A dada altura convencemo-las de que estão em perigo iminente e de que a única maneira de se salvarem é produzindo a proteína que nos interessa. O que elas fazem, se tudo correr bem. Depois, longe de se salvarem, o que acontece é que nós rebentamos com elas e tiramos a proteína lá de dentro. Felizmente ainda não há activistas dos direitos e bem estar das bactérias (e ainda bem, caso contrário deixaríamos de poder tomar antibióticos e regressaríamos ao inicio do século passado).
Regressado de York, foi à produção biotecnológica de proteínas que me dediquei no ITQB, em Oeiras. O que trouxe na bagagem foram essencialmente pequenos tubos, aparentemente vazios. Com o olho treinado, e sob luz directa, poderiam distinguir-se resíduos esbranquiçados no fundo de cada tubo, que na realidade continha ADN liofilizado (o branco não é do ADN, mas sim de proteínas associadas). Porções circulares de ADN, a que se chamam plasmídeos, cada um deles contendo um gene com a informação para construir uma proteína.
Inseridos os plasmídeos dentro das bactérias, e com a motivação adequada que já mencionei, elas estão dispostas a colaborar. Fazemos com que o objectivo da vida delas seja produzir a proteína que queremos. Este é o mesmo processo usado para produzir anticorpos (que também são proteínas) para fins terapêuticos. Uma actividade reconhecidamente meritória e perfeitamente enquadrada na sociedade. Que mais uma bactéria pode ambicionar?
10, 9
A dada altura convencemo-las de que estão em perigo iminente e de que a única maneira de se salvarem é produzindo a proteína que nos interessa. O que elas fazem, se tudo correr bem. Depois, longe de se salvarem, o que acontece é que nós rebentamos com elas e tiramos a proteína lá de dentro. Felizmente ainda não há activistas dos direitos e bem estar das bactérias (e ainda bem, caso contrário deixaríamos de poder tomar antibióticos e regressaríamos ao inicio do século passado).
Regressado de York, foi à produção biotecnológica de proteínas que me dediquei no ITQB, em Oeiras. O que trouxe na bagagem foram essencialmente pequenos tubos, aparentemente vazios. Com o olho treinado, e sob luz directa, poderiam distinguir-se resíduos esbranquiçados no fundo de cada tubo, que na realidade continha ADN liofilizado (o branco não é do ADN, mas sim de proteínas associadas). Porções circulares de ADN, a que se chamam plasmídeos, cada um deles contendo um gene com a informação para construir uma proteína.
Inseridos os plasmídeos dentro das bactérias, e com a motivação adequada que já mencionei, elas estão dispostas a colaborar. Fazemos com que o objectivo da vida delas seja produzir a proteína que queremos. Este é o mesmo processo usado para produzir anticorpos (que também são proteínas) para fins terapêuticos. Uma actividade reconhecidamente meritória e perfeitamente enquadrada na sociedade. Que mais uma bactéria pode ambicionar?
10, 9
5 comentários:
Gosto é de ver estes tipos que nem conseguiram entrar em Medicina armados em doutores...
Eu gosto de ver estes tipos anónimos armados em espertos
que eu saiba em medicina não têm apanágio de andar a enfiar genes em plasmídeos, entre uma consulta e outra, mas nunca se sabe. seria uma óptima explicação para a abundancia de infecções nosocomiais.
Ainda bem que pegaste nesta ideia de fazer o step by step do doutoramento! Gosto :) Mas continuo à espera das dicas de culinária, já sabes!
:)
David,
Concordo com a SOfia Covas que esta contagem decrescente esta a ser muito interessante. Obrigado por coloca-la online! :-)
Caro anonimo,
"Estes tipos" nao entraram em medicina porque nao *quiseram*. E, com esse nao querer, "conseguiram" contagens decrescentes a convergir sim, para esse titulo por extenso. Sem armaduras. Va contando. Pelos dedos, se ajudar...
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