Fui pela primeira vez a Grenoble (França) em 1999, no âmbito do meu estágio de licenciatura, em cristalografia de raio-X de proteínas. Era um curso de uns três ou quatro dias sobre aplicações de feixes de raio-X produzidos num sincrotrão.
Um sincrotrão é um acelerador de partículas, um sítio onde (neste caso) os electrões andam a velocidades próximas da luz. Um electrão às voltas num acelerador de partículas é como um carro às voltas numa rotunda com os faróis acesos. Emite luz numa direcção tangencial à sua trajectória. No caso do carro às voltas na rotunda é luz visível, no do electrão raio-X.
O que me faz constantemente voltar a Grenoble é um sincrotrão, em que os electrões dão voltas de 600 metros e emitem raio-X a cada curva. O European Synchrotron Radiation Facility (ESRF).
Um sincrotrão é um acelerador de partículas, um sítio onde (neste caso) os electrões andam a velocidades próximas da luz. Um electrão às voltas num acelerador de partículas é como um carro às voltas numa rotunda com os faróis acesos. Emite luz numa direcção tangencial à sua trajectória. No caso do carro às voltas na rotunda é luz visível, no do electrão raio-X.
O que me faz constantemente voltar a Grenoble é um sincrotrão, em que os electrões dão voltas de 600 metros e emitem raio-X a cada curva. O European Synchrotron Radiation Facility (ESRF).
Ao contrário de outros aceleradores de partículas, o ESRF não está enterrado e o túnel circular pode distinguir-se perfeitamente.
O que ponho à frente desse feixe de raio-X de alta intensidade são cristais de proteína. Um cristal é um sólido em que as moléculas estão todas orientadas da mesma maneira. Assim, quando a radiação incide no cristal todas as moléculas interagem com ela da mesma maneira. Se as moléculas estivessem cada uma virada para seu lado, a interacção de uma era anulada pela de outra, e no final não víamos nada. É o que acontece com um sólido amorfo.
Pormenor de uma cabine experimental (beamline) do ESRF. Quando o feixe de raio-X está "ligado" ninguém aqui pode estar. No entanto, entramos para introduzir as amostras e preparar a experiência.
Fazendo curta a história, pomos o cristal de proteína à frente do feixe de raio-X e parte da radiação é desviada em direcções muito definidas que são registadas num detector (semelhante a um CCD de uma máquina fotográfica digital). Na imagem obtida no detector aparecem uns pontinhos. Rodamos o cristal, incidimos mais raio-X e obtemos mais pontinhos. Por inacreditável que pareça, esses pontinhos têm informação sobre a estrutura (a forma em três dimensões) da proteína (a unidade que se repete no cristal).
Mas em 1999 não estava muito para aí virado. Tinha decidido arranjar um emprego numa empresa quando acabasse o curso. Grenoble impressionou-me pelas montanhas, o próprio sincrotrão é imponente, mas lembro-me de ter pensado que provavelmente nunca mais lá voltaria. Por outras ocasiões pensei a mesma coisa.
Grenoble é o sítio onde estou sempre a voltar pela última vez.
Pormenor de uma cabine experimental (beamline) do ESRF. Quando o feixe de raio-X está "ligado" ninguém aqui pode estar. No entanto, entramos para introduzir as amostras e preparar a experiência.
Fazendo curta a história, pomos o cristal de proteína à frente do feixe de raio-X e parte da radiação é desviada em direcções muito definidas que são registadas num detector (semelhante a um CCD de uma máquina fotográfica digital). Na imagem obtida no detector aparecem uns pontinhos. Rodamos o cristal, incidimos mais raio-X e obtemos mais pontinhos. Por inacreditável que pareça, esses pontinhos têm informação sobre a estrutura (a forma em três dimensões) da proteína (a unidade que se repete no cristal).
Mas em 1999 não estava muito para aí virado. Tinha decidido arranjar um emprego numa empresa quando acabasse o curso. Grenoble impressionou-me pelas montanhas, o próprio sincrotrão é imponente, mas lembro-me de ter pensado que provavelmente nunca mais lá voltaria. Por outras ocasiões pensei a mesma coisa.
Grenoble é o sítio onde estou sempre a voltar pela última vez.