terça-feira, 24 de março de 2009

HUMOR: Doutoramentos na hora têm só capa e agradecimentos

(Um texto meu do Inimigo Público, a propósito disto: Portugal vai a Espanha doutorar professores)

Doutoramentos na hora têm só capa e agradecimentos

A necessidade de cumprir quotas de 50% de professores doutorados está a promover o Doutoramento na Hora nalgumas universidades e politécnicos, que firmam sinergias com instituições espanholas. Estes acordos baseiam-se na circulação de divisa de Portugal para Espanha, e de graus de doutor de Espanha para Portugal. O Inimigo publica aqui uma tese, para preencher, na íntegra.

Título: (escreva aqui um título, por exemplo os três primeiros itens da sua lista de supermercado).

Nome: (é o seu próprio nome, tal como aparece no BI ou cartão do cidadão, que é a mesma coisa)

Faculdade de (ponha aqui a sua área mais ou menos) da Universidade de Lloret del Mar, Isla Canela, Benidorm (riscar o que não interessa).

Data: (ponha a data de hoje, por exemplo, se não for fim de semana)

Agradecimentos: (exemplo: agradeço ao meu cão, fulano e sicrano, tal e tal, e acima de tudo à faculdade onde dou aulas e aos amigos que lá tenho. Obrigados).

quarta-feira, 11 de março de 2009

Os conselhos sexuais da Dra Tatiana para toda a bicharada

O tamanho dos testículos dos machos é uma medida da promiscuidade das fêmeas da espécie. O gorila tem testículos pequeninos porque é muito pouco provável que uma fêmea copule com mais do que um macho durante o período fértil. Já os chimpanzés têm testículos descomunais, porque as fêmeas são extremamente promíscuas (o recorde são 8 machos em 15 minutos). Havendo uma forte competição espermática (um chega para lá de espermatozóides de machos diferentes a tentar fecundar o mesmo óvulo), a quantidade conta muito.

Quem quiser ter uma medida da promiscuidade das mulheres, pode procura-la nos testículos. Não deixa de ser irónico que uma característica culturalmente associada a uma afirmação patriarcal, seja uma medida da promiscuidade das mulheres. Frases como "na minha terra temos todos os testículos bem grandes" vão no sentido de que "na minha terra, sucessivas gerações de mulheres costumavam copular com vários homens no mesmo período fértil, cujos espermatozóides competiam por um único óvulo, tendo-se por selecção natural preservado a descendência daqueles que mais espermatozóides produziam".

Isto a propósito da excelente conferência da Olivia Judson hoje na Gulbenkien.


Uma notável comunicadora de ciência, autora do livro "Consultório Sexual da Dra. Tatiana para toda a Criação", que deu origem a uma versão televisa. Um excerto no âmbito do assunto supracitado:



Mas da conferência fica-me essencialmente uma ideia: de que o mundo vivo, mais precisamente os organismos minúsculos, podem estar na origem da diversidade mineral que encontramos na Terra. Em geral tendemos a considerar que a geologia produziu um planeta ao qual se adaptaram os organismos vivos. No entanto, surgem cada vez mais evidências da enorme influência da acção dos microorganismos a moldar o planeta em que vivemos.

sexta-feira, 6 de março de 2009

catedrático que plagia los textos y que acosa sexualmente a profesoras.

Tomei conhecimento de um site sobre corrupção universitária em Espanha. Nós cá não temos nada disso, pelo menos não temos site!

http://www.corruptio.com/


Imagem com o título "La arrogancia de la corrupción" daqui. (As melhores legendas em espanhol sempre na Holla! e no seu blog favorito).

Ainda não analisei com detalhe, mas há temas relacionados com irregularidades em concursos para lugares de docência, abusos de poder, endogamia, plágios e até mesmo um caso inacreditável que passo a transcrever:

Universidad de Murcia: La Plataforma ha aclarado lo sucedido en Murcia con un catedrático que plagia los textos de otros y que, además, supuestamente acosa sexualmente a profesoras.

Não faço ideia se é verdade, mas não é bonito. E claro que esta abordagem voyarista de alegada corrupção não será necessariamente meritória. Mas creio que as questões da transparência dos concursos (uma recomendação da Carta Europeia do Investigador), da endogmia (demonstrado que afecta negativamente a produtividade científica) e do plágio (tabu?) não devem ser metidas para debaixo do tapete.

O problema de fundo creio que é a responsabilização. Nem me choca que um líder de grupo possa escolher livremente as pessoas com quem trabalha, sem necessitar de concursos-fantochada. Desde que seja responsabilizado pelos resultados, recompensado ou castigado. Se as universidades dependerem mais da qualidade da investigação para se financiarem (da capacidade dos seus investigadores para ganharem financiamento) talvez prefiram trabalhar com os melhores, mesmo que estes não sejam os amigos.

E talvez não devessem existir tantas posições permanentes. Como é possível responsabilizar alguém que nunca vai perder o emprego? Defendo posições temporárias nas universidades e institutos, e que ao fim de 3 a 10 anos as pessoas voltem ao mercado e as universidades tenham a oportunidade de se renovar. Naturalmente com mecanismos de protecção social adequados, para que esta mobilidade ocorra de modo sustentado e sem situações dramáticas.

Nesse aspecto vão sem dúvida na boa direcção as posições dos Laboratórios Associados e Ciencias 07/08. Vão? Pergunto, foram oportunidades ganhas ou perdidas? As instituições aproveitaram para contratar pessoas pela sua qualidade e mérito? Os concursos foram justos? Não sei. Mas acho que deveria ser avaliado.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Homo digitalis 140 crts


140 caracteres é o conteúdo mais longo que o cérebro do Homo digitalis consegue apreender?

segunda-feira, 2 de março de 2009

Expulsão de cérebros

Citação de João Sentieiro, Presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia: "os bolseiros tem de se mentalizar que têm de ir lá para fora e isso não é mau para o País". Clique para ampliar a imagem.

Decorre amanhã, dia 3 de Março, uma Conferência Parlamentar sobre Ciência, promovida pela Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, presidida pelo deputado António José Seguro, na qual infelizmente não poderei participar por motivos de força previamente agendados. Passo a enumerar os painéis e respectivos participantes (entre os quais o supracitado):
Painel 1: A Ciência em Portugal: realidade e perspectivas
João Sentieiro (Presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia), Lino Fernandes (Presidente da Agência de Inovação) e Ana Noronha (Directora Executiva do Ciência Viva).

Painel 2: A Ciência em Portugal: da produção à divulgação
Luís Portela (Presidente da BIAL), António Coutinho (Director do Instituto Gulbenkian de Ciência) e Vasco Trigo (Jornalista da RTP/Programa 2010)

Painel 3: A Ciência em Portugal: a rede pública de unidades de investigação
Alexandre Quintanilha (Secretário do Conselho dos Laboratórios Associados), Jorge Braga de Macedo (Presidente do Instituto de Investigação Científica Tropical/Universidade Nova de Lisboa) e Armando Cerezo Granadeiro Vicente (Director do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos)

Painel 4: A Ciência em Portugal: a dimensão internacional
Luís Magalhães (Presidente do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia), Pedro Russo (Responsável da UNESCO pelo Ano Internacional da Astronomia) e Ricardo Serrão Santos (Director do Departamento de Oceanografia e Pescas da Univ. dos Açores)
O debate sobre as questões de ciência é importante e a percepção pública e política da importância da ciência também. Mas sendo o debate na Assembleia da República tenho pena que estejam fora da agenda temas que deveriam ser discutidos, votados e alterados pelos deputados, nomeadamente as condições com que muito investigadores se deparam em Portugal.

Mais conversa menos conversa, os cientistas continuam em saldos. Há investigadores que continuam a ganhar 745 euros, os montantes das bolsas não são actualizados desde 2002 (perda de 18% do poder de compra) e não têm direito ao regime geral de Segurança Social (aquele que os outros não querem).

Claro que isto não é bonito.

É interessante que o jovem investigador brilhante cujo braço peludo aparece na fotografia em cima seguiu o conselho do cartaz que segura. Quando acabou o doutoramento mentalizou-se que tinha que ir lá para fora, onde lhe foram oferecidas condições impensáveis em Portugal. Por muito bons que sejam o clima e a gastronomia, após meses sem bolsa (porque também não há subsidio de desemprego) achou que estava na altura de pagar o buraco no cartão de crédito.